Soares Louro

A tão falada SGU (Sociedade de Gestão Urbana) está na iminência de arrancar. João Soares Louro, Director-Geral de Operações durante a Expo´98 e actual responsável da Unidade de Negócios de Gestão Urbana da Parque Expo, fala-nos do Parque, de hoje, e do futuro da tripar­tida.­

Esta mudança de instala­ções simboliza de alguma forma o futuro da SGU?
Não, é por uma questão de logística. A SGU deverá funcionar numa boa relação com a Parque Expo, até porque esta a integra, mas de uma forma autónoma, independente. Por vezes, a geografia ajuda a marcar essas características.

Para quando está previsto o arranque da SGU?
As alterações que se verificaram nos executivos camarários (Lisboa e Loures) foram recentes e o processo sofreu uma pequena travagem. Suponho que, agora, levará uma aceleração.
A SGU é uma boa solução, porque preserva a gestão do território como um todo não o cortando ao meio. Ocupamos terrenos que são a maior parte da área de Lisboa e, também, de Loures. O critério desta sociedade é colocar as três partes nesta gestão, sendo que a Parque Expo sairá (pensa-se que daqui a dez anos), ficando os dois municípios em manutenção.
Loures já nomeou os seus administradores e Lisboa está, neste momento, à espera do visto do Tribunal de Contas para a execução deste processo que, em princípio, já passou pelo executivo, não sei se voltará a passar.

O Dr. Santana Lopes parece ver com bons olhos esta sociedade.
O Dr. Santana Lopes, que é Administrador não-executivo da parque Expo, em diálogos directos connosco, tem manifestado o seu apoio à SGU.

Ao contrário de alguns autarcas sociais democráticos anteriores e de  deputados que se diz estarem em desacordo com este projecto, pelo facto de se afastar do processo autárquico tradicional.
Mas a vantagem é mesmo essa. Nós temos um modelo autárquico de gestão integrada diferente do modelo tradicional de gestão camarária. É mais eficaz (passo a presunção) e o que nos diferencia é que somos uma equipa pequena, com uma capacidade de deliberação que abarca várias áreas da gestão municipal. Eu, por um simples despacho, como Adminis­trador da Parque Expo, posso dar a execução a uma obra que envolva as chamadas zonas verdes ou infra-estruturas que envolvam a água, electricidade e recolha de resíduos sólidos urbanos, entre outras. Nos municípios, cada uma destas vertentes, é assumida por um director diferente, que faz um ofício para um colega a explicar que precisa de abrir uma vala ou requalificar um espaço verde e o outro vai estudar e escreve a 4 ou 5  intervenientes. Nós arranjamos uma solução com menos decisores e isso traz, sobretudo, uma vantagem que é a celeridade na solução de problemas, com menos burocracia, praticamente tomamos decisões por correio electrónico. A nossa intervenção é muito mais sólida e abrangente.

Enquanto Director-Geral de operações da Expo, referiu que os portugueses têm um defeito que é “serem pouco cuidadosos nos acabamentos” e, apesar de um certo receio, a exposição foi considerada um sucesso.De que forma é que o fantasma da construção poderá ter comprometido o depois?

Nós tínhamos grandes promotores, grandes empresas da construção civil, não lhe vou omitir que existem resultados muito bons e resultados menos bons, mas, indiscutivelmente, temos uma qualidade que ultrapassa a qualidade média alta do país. Estamos, no entanto, numa fase crítica de estaleiros e obras. Nós prevíamos que, em 2006/2007, estivesse tudo vendido. Estamos avançados 3 a 4 anos e esse avanço inclui um sobre-esforço para que demasiadas coisas ocor­ram num espaço de tempo mais curto. Isso traz vantagens e desvantagens, porque constitui um incómodo para os residentes e visitantes. No caso do estacionamento, o número previsto é muito superior ao determinado legalmente para qualquer urbanização e vai chegar para todas as pessoas. Estamos a construí-los e vamos construir ainda mais. Agora, o que nós temos é esta realidade: se devemos manter esta zona num estaleiro mais dez anos ou se podemos concluir as obras em 2004/2005. Esse é o nosso objectivo neste momento, para que as pessoas encontrem, aqui, o sossego, a tranquilidade, menos pó, menos ruído. É um de­safio para o qual nós pedimos o entendimento e a cumplicidade daqueles que cá vivem, daqueles que cá trabalham. Tal como vencemos o desafio da construção e funcionamento da Expo, este é outro desafio que se coloca agora: uma parte grande da cidade, num curto espaço de tempo. Não há um exemplo no mundo de uma exposição que encerra e, passados 15 dias, abre ao público, já sobre outro aspecto, outra orientação. Todos os anos, o número de visitantes é o dobro da população portuguesa.

Quais é que pensa serem os maiores receios daqueles que vivem, visitam e traba­lham no Parque? O que é que a Associação de Moradores lhe transmite?
A Associação de Moradores foi criada há cerca de 3, 4 anos e existe uma instituição que é a Provedoria da Qualidade, da qual eu sou o Provedor, mantendo alguma cumplicidade com a Associação. Eu penso que eles querem sempre mais e mais. É o papel deles e eu compreendo-os perfeitamente. Louvo a sua persistência e insistência. Em Portugal, reclama-se pouco e eu estimulo a Associação a reclamar e a protestar porque estou aqui transitoriamente e este espaço vai ficar para eles e é importante que intervenham nesta gestão.

Em relação às principais preocupações…
Em relação aos equipamentos escolares, temos uma escola modelo e mais duas previstas. A escola está saturada e com os contactos com a DREL conseguimos que uma delas avance agora. O problema que se coloca é que só poderá estar em funcionamento no ano lectivo de 2003/2004. O protocolo já está concluído e, se não houver contrariedades, será, brevemente, lançado o concurso público.

O Centro de Saúde está previsto no PP 4…
Parece-me uma situação menos crítica. Os centros de saúde de Moscavide e dos Olivais estão saturados. Falámos com o Ministro da Saúde e com o Hospital das Descobertas no sentido de criar um acordo com a Direcção Geral de Saúde de Lisboa, para possibilitar o serviço a residentes e traba­lhadores desta terra. Isto, enquanto a situação do Centro de Saúde não se resolver. Por isso, não me parece crítico, se este acordo que está a ser negociado, se possa concluir num espaço de tempo confortável.
Em relação à mobilidade…
As pessoas não vão para os parques de estacionamento que, se dermos uma volta pelo Parque, estão com grande disponibilidade. Não têm método de estacionamento nenhum e estacionam anarquicamente. Este  é um problema que, com a criação da SGU, será imediatamente resolvido. A SGU ficará dotada de uma autoridade administrativa e permitirá que a intervenção policial e outras medidas sejam aplicadas, tal como, no resto da cidade. Por outro lado, esta zona serve, também, de passagem de acesso a Lisboa o que cria alguns problemas que, no entanto, se resolverão com algumas obras necessárias.

Transportes…
Estamos a negociar com a CARRIS a instalação de mais uma carreira vocacionada para a circulação permanente das pessoas. Estamos, também, na expectativa de que o serviço metropolitano seja alargado. O Eng. Isaltino Morais falou num comboio rápido, no qual nós estamos interessados, que ligaria Algés a Moscavide.
Em relação a outros equipamentos, a creche está numa fase de arranque, é de iniciativa privada, mas nós ofereceremos as facilidades precisas. Os recintos desportivos são mais dirigidos para a área de Loures, os campos de ténis estarão a funcionar a partir de Maio/Abril e, junto a eles, será feito um campo de futebol. Vamos ter uma pista de atletismo e estamos a considerar a hipótese de termos piscinas. Enfim, Roma e Pavia não se construíram num dia. Não passaram 10 anos e está de pé, o que eu considero, uma pequena cidade dentro de uma grande cidade.

Se existirem cortes financeiros o motor que eleva  a distinção do Parque estará em risco?
Não, porque a maior parte das receitas autárquicas virão para a SGU. Segundo um estudo pedido a uma entidade privada, a previsão aponta para um resultado operacional positivo.