Selecção Nacional

Na última década, o Parque das Nações tornou-se um local de eleição para festejar as vitórias da selecção nacional. Sempre em ambiente muito festivo, milhares de adeptos acorrem a esta zona da cidade para assistir em bares ou ecrãs gigantes aos jogos da ‘equipa de todos nós’. Com o aproximar do Mundial da África do Sul (em Junho) esperam-se cenários idênticos, mas terão os adeptos razões para festejar? A verdade é que há muito tempo que a participação da selecção numa competição de topo não era antecipada com tamanho pessimismo e tão pouco entusiasmo.
A fase de qualificação foi penosa e francamente pouco convincente. A equipa de Queiroz começou por parecer regredir para um paradigma muito comum no futebol português: jogar bem e não ganhar. Só na recta final, quando o espectro de uma eliminação prematura se tornava mais forte, é que Portugal redescobriu um estilo de jogo mais pragmático e eficaz, que permitiu ultrapassar a Bósnia, em dois jogos de muito suor e pouca arte.
Curiosamente, esta forma de jogar para o resultado encontra paralelo no ‘reinado’ de Luiz Felipe Scolari. Excepção feita ao Euro 2004, disputado em casa, as equipas dirigidas pelo treinador brasileiro iam levando a água ao seu moinho através de exibições inteligentes, mas pouco entusiasmantes. Aliás, Scolari sempre foi mais dado a elevar os espíritos da nação fora de campo, em operações de charme junto dos adeptos, do que propriamente por via da qualidade do futebol dentro das quatro linhas.
Ora, além de muito contestado devido a algumas convocatórias e opções tácticas, Carlos Queiroz não tem, nem de longe nem de perto, o mesmo carisma e magnetismo do seu antecessor. Não lhe é tão fácil motivar os adeptos e mobilizar o país em torno da selecção. Conseguir recriar um ambiente de apoio incondicional à ‘equipa das quinas’, capaz de contagiar os jogadores, é um dos maiores desafios que Queiroz tem de enfrentar, se quiser ser bem sucedido em África.
Outra razão que também contribui para alguma descrença dos portugueses na sua selecção prende-se com a matéria-prima, isto é, os jogadores. Estou convencido de que o grupo de atletas com que Queiroz vai contar neste Mundial é mais fraco do que qualquer um dos que participou em mundiais ou europeus na última década. Jogadores de categoria mundial no auge das suas carreiras? Um: Cristiano Ronaldo. Bosingwa e Pepe também o são, mas vão ficar de fora por lesão. Nani é uma boa promessa mas ainda não está neste patamar. Figuras como Ricardo Carvalho, Deco ou Simão parecem-me estar a entrar na fase descendente das respectivas carreiras (evidente no caso do luso-brasileiro).
Ainda no onze-base da selecção, Bruno Alves e Raul Meireles (decisivos na qualificação) têm tido uma época para esquecer e passam por um momento de forma preocupante. A escassez de opções para as posições de lateral esquerdo e ponta-de-lança é tal que Queiroz se viu obrigado a adaptar um extremo no primeiro caso (Duda), e a naturalizar um brasileiro de 32 anos no segundo (Liédson). Saúde-se, ainda assim, a aposta em Pedro Mendes, eterno esquecido de Scolari, para o meio-campo defensivo, e em Eduardo para a baliza. Apesar de lhe faltar alguma experiência a este nível, o guarda-redes do Sp. Braga tem correspondido de forma positiva à confiança do seleccionador.
Existe também um problema de liderança. Portugal não tem um capitão ‘a sério’. Não existe na selecção actual um jogador como Fernando Couto ou Luís Figo (para usar exemplos mais recentes), capazes de se fazer respeitar de igual modo por colegas e adversários. Cristiano Ronaldo é um jogador fantástico e com um imenso leque de qualidades, mas não tem o perfil necessário para capitanear o grupo.
Por fim, se a fé dos portugueses nesta selecção já não era a maior, o sorteio da fase final do Mundial aumentou ainda mais os níveis de pessimismo. Portugal ficou incluído no ‘grupo da morte’, com Brasil e Costa do Marfim, e, mesmo passando a fase de grupos, é provável que tenha de medir forças com a Espanha logo nos oitavos-de-final. Só por isso, chegar aos quartos-de-final já se adivinha como uma tarefa hercúlea. Os heróis que se assumam…

Bernardo Mata