Selecção Nacional

O anúncio dos jogadores que vão representar a selecção portuguesa no Campeonato do Mundo levantou muitas críticas: “Quem são Daniel Fernandes, Ricardo Costa e Zé Castro? Onde estão jogadores como Quim ou João Moutinho?”, perguntaram muitos portugueses. Para o adepto, a lógica que deve estar na base das convocatórias da selecção só pode ser uma: mérito. São os jogadores que melhor se apresentaram ao longo da época que devem ir ao Mundial.
No entanto, vezes sem conta vemos seleccionadores a desafiarem este ideal, chamando futebolistas da sua confiança, mas que pouco jogam nos seus clubes. O objectivo passa por manter uma certa estabilidade no grupo, impossível de alcançar quando se muda meia equipa de jogo para jogo, de acordo com a forma de cada jogador. Privilegia-se o grupo em vez do individual e tenta-se construir uma equipa mais unida, mais solidária e até mais confiante. Há, por exemplo, quem teorize que Carlos Queiroz preferiu deixar de fora o guarda-redes do Benfica, Quim, de modo a que Eduardo não se sinta pressionado pela concorrência interna. De facto, nem Beto nem Daniel Fernandes devem constituir grande ameaça à titularidade do guardião do Sp. Braga.
Procura-se, portanto, que se construa um espírito de equipa forte e à prova de egos. O Mundial é uma prova curta e, por isso, nem sempre os treinadores precisam tanto de um suplente de luxo como de um jogador capaz de esperar pela sua oportunidade. Posto isto, continua a parecer estranha a ausência de João Moutinho, tido por todos como um profissional exemplar dentro e fora do campo.    
Um grande adepto deste tipo de convocatórias era Scolari, que nunca pareceu importar-se muito com a forma dos jogadores para os convocar. Costinha, por exemplo, estava ‘encostado’ no Dinamo de Moscovo quando foi chamado para o Mundial 2006. Já Vítor Baia, por melhor que jogasse no F.C. Porto, nunca foi convocado pelo técnico brasileiro, provavelmente por reagir mal ao papel de suplente.
Mas os exemplos destes casos espalham-se pelo mundo. A convocatória do Brasil, por exemplo, inclui suplentes da Roma (Doni e Júlio Baptista) e do Flamengo (Kleberson) e não o genial Ronaldinho. Na Argentina, Maradona não teve problemas em deixar de fora jogadores do Inter (Zanetti e Cambiasso) e chamar dois atletas do Newcastle, clube que milita na 2ª divisão inglesa. Já em Itália, Marcelo Lippi convocou praticamente a mesma equipa com que foi campeão do Mundo há quatro anos. Muitos são jogadores em final de carreira e longe do fulgor de outros tempos, mas já deram provas no passado e Lippi sabe que pode contar com eles. De fora ficaram grandes jogadores como Cassano e Balotelli, cuja habitual indisciplina poderia revelar-se nefasta para a estabilidade do grupo.
No pólo oposto, Espanha e Inglaterra vão levar os seus melhores jogadores à África do Sul e, por isso mesmo, encontram-se entre os principais favoritos à vitória final. Mas não há campeão sem união e a história dos campeonatos do mundo está cheia de exemplos que o comprovam. Há quatro anos, a selecção italiana uniu-se em torno da vontade de limpar a imagem do futebol italiano, após o enorme escândalo de corrupção que abalou o calcio. Em 2002, o Brasil de Scolari quase falhou a qualificação, mas acabou por vencer o Mundial às custas de um notável espírito de entre-ajuda. Quatro anos antes, foi a França que não quis desperdiçar uma oportunidade única de se sagrar campeã em solo nacional e com uma equipa multicultural para desagrado de todos os ‘Le Pens’ que a queriam ver falhar.
No fim de contas, não são os grandes jogadores que ganham campeonatos, são as grandes equipas. Que Portugal a consiga ser…

Bernardo Mata