Regeneração Urbana

[vc_row type=”full_width_background” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ width=”1/1″][divider line_type=”No Line” custom_height=”50″][vc_column_text]O seminário, promovido pela INTA (Internacional Urban Development Association), Câmara Municipal de Lisboa e Parque Expo, trouxe a Lisboa o debate sobre os desafios da Reabilitação Urbana e da mobilidade. Especialistas internacionais debateram o tema e vários casos de cidades europeias foram apresentados. O envolvimento da comunidade foi um dos denomindores comuns dos oradores. Rolando Borges Martins, presidente da Parque Expo, fala-nos sobre estas questões, numa altura em que se preparam para lançar um projecto, de participação da comunidade, para a escolha de investimentos a fazer, no PN. O orçamento previsto é de 80 mil euros.

O seminário da INTA foi um sucesso. Que balanço faz?
Escolhemos um tema complexo. Visava um público especializado e com alguma dedicação à área. A ideia foi termos pessoas de outras cidades, de outros países a falarem  sobre o tema que era a conjugação de três realidades: as centralidades, a regeneração urbana e a mobilidade. Estes três dentro de uma zona de reflexão da Inta  que é a metropolização. As metrópoles que são realidades cada vez mais presentes no mundo e de afirmação futura. Como numa metrópole as centralidades se comportam, qual o papel que a mobilidade pode ter ou não dentro dessas metrópoles,  a questão da regeneração urbana, nomeadamente dos centros históricos que têm passado por alguma degradação.
A conjugação destas três questões levou, também, a introduzir um conjunto de dimensões mais intangíveis e menos técnicas. Como a questão que foi falada, por Roterdão, do conceito de “alma da cidade” e da participação e envolvimento das pessoas, dos cidadãos e da escala. Porque tudo isto faz sentido a uma escala da metrópole ou de uma cidade ou de um bairro. A interacção entre quem decide e quem vive , entre  quem planeia e quem gere. Por isso gostei da intervenção de Roterdão nomeadamente na questão de que as coisas já não são “complicadas, mas são complexas”.  É mais complexo na medida em que tem muitas disciplinas,  é mais abrangente, mais holístico.  Tem o geógrafo, o  sociólogo, o arquitecto, o designer, o gestor público, a gestão urbana, tem todo este conjunto de pessoas. Portanto é mais complexa, mas é, também, mais rica. Os tecidos são cada vez mais sistemas vivos e vivem de tudo isto.

Esta organização conjunta tem, também,  por trás, uma outra leitura que é da relação do Parque das Nações com o resto da cidade de Lisboa. Esta nova centralidade, que aqui foi criada durante os últimos 15 anos, não vive sozinha, nem faz sentido que viva sozinha. Tem que viver com uma relação com o centro da cidade e com as outras centralidades que, à escala metroplitana, existem ou se afirmam. O papel da mobilidade aí é determinante. E, de facto, temos uma linha de metro que exerce uma relação relevantíssima, à escala da metrópole, mas talvez nos falte, ainda, alguma mobilidade de proximidade e que estabeleça uma relação entre as zonas residenciais e a estação. Gostaríamos muito de pôr de pé um projecto de mobilidade suave, de relação directa entre as zonas residenciais, do PP3 e do PP4, e a estação. Este projecto permitiria que muitas pessoas não fossem trabalhar, no seu transporte individual, para outras zonas da cidade, mas que aproveitassem o metro que tem hoje uma rede muito alargada.

As centralidades são tão mais ricas quanto mais completas forem, como esta é, mas também tem que saber estabelecer a sua relação com outras.

Há, também, outra dimensão que foi referida: o desenvolvimento que esta zona teve e que poderá ter contribuído para o envelhecimento do centro histórico de Lisboa. Os investimentos imobiliários que decorreram na primeira década, deste século, em Lisboa, foram muito concentrados aqui. E, portanto, não houve investimento no downtown. As cidades vão por movimentos e por umas zonas que vão crescendo e outras não.  Esta década é a década em que temos que voltar a olhar para os centros históricos e para as zonas que vão perdendo adequação, entre o seu tecido edificado e as novas formas de vida. Turim é um muito bom exemplo disso. Era um bairro complicado, com uma população avulsa de populações emigrantes, com uma taxa de residentes não naturais, e que, com um cozimento interno, começou a ganhar sentido, alma, força, graça e deixou de ser uma zona rejeitada, sendo hoje muito procurada e visitada.

A apresentação de Roterdão terá sido a apresentação mais inovadora, concorda?
A apresentação de Roterdão foi particularmente feliz porque falou de projectos que não precisam de grandes investimentos, grande escala. São pequenas coisas que, com o envolvimento das populações, permitem ter resultados concretos para a cidade, para as pessoas. E, a esse propósito, posso dizer que vamos lançar um projecto de participação das pessoas, via internet, para escolha de investimentos a fazer no PN. Vamos ter dois ou três projectos que vamos sugerir como possíveis de realizar e, além disso, vamos ter um período aberto para as pessoas enviarem propostas. Iremos ter um valor anual que será de cerca de 80 mil euros. Os projectos serão votados e escolhidos publicamente, via online, com o nosso compromisso de os realizar. A escolha é livre. Isso reforça a dimensão de bairro, de partilha e o sentimento de grupo, que aqui já vai existindo. Isto faz criar, também, algum gosto pela casa, por esta casa que é o Parque das Nações.
A Associação de Moradores e Comerciantes está obviamente a participar connosco neste projecto.

Acha que os portugueses têm esse sentimento de casa? Sentem o espaço urbano como sendo deles?
Acho que mudou muitíssimo o respeito, a preocupação com o espaço urbano, o respeito pelo espaço e, sobretudo, isso é muito reforçado pelas novas gerações, pelas escolas, e pela nova formação que os jovens assimilam e trazem, também, para casa. Mesmo em questões ambientais, questões de cidadania, são muitas vezes os miúdos que, hoje, em casa, conseguem alterar os comportamentos dos pais. O lixo, a deterioração do espaço, etc. é o que mais facilmente se vê, se sente no espaço público. Há hoje uma sensibilização ambiental muito maior em relação a isso.
Acho que a última década foi determinante na qualificação do espaço público de todas as cidades, vilas e aglomerados urbanos portugueses. Mudou muito e, quando muda, as pessoas têm muito respeito por isso. Não estamos à frente nem atrás de outros países europeus. Estamos seguramente à frente de muitos outros territórios, onde estamos a trabalhar, em que o espaço público, ainda hoje, é uma realidade desconhecida, como, por exemplo, acontece nos países do norte de África. No Maghreb, por exemplo, ainda há muito a fazer no processo de reconhecimento do espaço público, como um espaço de todos.

Costumamos dizer que as cidades, acima de tudo, são feitas de pessoas. O que acha do nível de participação associativo, participativo e de ocupação do espaço?
O movimento associativo e a ocupação do espaço são coisas distintas. Em relação ao movimento associativo posso dizer que, apesar de ser, inegavelmente, um tecido urbano recente, já tem um movimento associativo relevante e com audição. Há zonas onde estes movimentos associativos existem, mas depois não têm audição a nível da decisão. Agora, nós, enquanto entidade gestora, temos reuniões periódicas com a AMCPN e, portanto, há uma participação permanente. Temos uma relação próxima com esta associação. Acho que em termos mediáticos, o Notícias do Parque é, também ele, um produto desse tipo e que pode ter aqui um papel relevantíssimo porque é um cimento para isto tudo, na relação entre as pessoas, entre os que visitam, os que moram. Não conheço, à escala de Lisboa, muitas publicações que desempenhem o papel que o Notícias do Parque desempenha. Isso é um resultado de um espírito de colectividade que já existe.

Em relação à ocupação? Acha que as pessoas ainda estão muito dentro de casa? Que podiam sair mais? Por exemplo, o Jardim do Cabeço das Rolas está sempre vazio…
Temos duas ou três zonas de espaço público em que a questão da ocupação não está bem resolvida. O Cabeço das Rolas é um dos casos em que esperávamos maior utilização do que na prática existe. Temos também a situação do Braço de Prata, ali no PP4 e ainda o PP6, junto ao Trancão, por concluir. Portanto temos aqui bolsas que, ainda, faltam terminar.

Se forem criadas Dinâmicas no Cabeço das Rolas, por exemplo, uma feira tipo feira da ladra, estão abertos a este tipo de sugestões?
Claro!

E, afinal, qual é a alma do PN?
É uma pergunta muito difícil. O que é a “alma”? Alma é o pulsar é o…. É o resultado destes movimentos todos, destas pessoas todas, destas acções todas que aqui se fazem.
A alma é aquilo que é comum a todos, é o carácter único de um território. Aqui há, indiscutivelmente um reconhecimento natural, espontâneo e automático de que “isto é outra coisa.”

Mobilidade suave. O que quis dizer com isso, ainda há pouco?
Eu queria ligar mais o PP3 e o PP4 com a zona central. Daquilo que é a comutação diária (manhã e final do dia) para as pessoas que aqui moram e que vão trabalhar noutro sítios. Ganhava-se muito se se conseguisse possibilitar isso a muita gente que aqui vive. Não ter que utilizar o transporte individual porque existe uma opção de transporte público. Por exemplo, primeiro de bicicleta e, depois, de transporte colectivo para o trabalho.

Mas algo tipo bicicletas partilhadas?
Sim, um processo desse tipo. Este território é perfeito para isso. Todo ele é plano. Temos todas as condições aqui para implementar um projecto desse género.

Mas não será preciso algo mais? Mudar a mentalidade primeiro?
Eu também tenho uma bicicleta à porta de casa que uso durante o fim-de-semana. Acho que as pessoas preferem processos estruturados. Precisam desse coaching, desse enquadramento.  Não estamos a falar de um processo lúdico. Estamos a tentar introduzir um processo de rotina diária. Por exemplo, em Genève, 8 ou 9% da população usa a bicicleta. E debaixo de um clima muito diferente do nosso, com muita neve, chuva, frio, etc..

De que forma se pode mudar a mentalidade?
Através destes processos que são indutores destas mudanças.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”50″][/vc_column][/vc_row]