Quem é a Violeta, Pá?

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Juliana ou Julieta ou Violeta? A verdade é que, no passado dia 24 de janeiro, saí à rua e fui assaltada por centenas de carros, uns estacionados ao Deus dará como convém, outros a quererem estacionar-se e achei estranho… Pensei logo para com os meus botões… hum, temos feira! Uma feira de qualquer coisa, mas temos feira! Uma das muitas que se realizam na FIL, aqui ao lado e, em cujos dias, o caos do estacionamento se instala. Ao tentar sobreviver – leia-se, circular por entre o caos para ir à minha vidinha de sábado – começo de imediato a ver grandes magotes de paizinhos e mãezinhas com as respetivas descendências, mais meninas que meninos, diga-se em boa verdade, ainda naquelas idades da meia azul escura até ao joelho e da bandolete. Mau, Maria! – pensei. Temos feira… Mas feira de quê?
Fui investigar. Não tendo acesso à internet e tendo como missão, quase de vida ou de morte,  ir procurar víveres para atestar o meu frigorífico vazio, não desisti dos meus intentos. Armada em resistente, dirigi-me ao supermercado. Cedo me arrependi. Ele era polícia a controlar o trânsito (não os carros mal estacionados, perceba-se), ele era miudagem da pequena aos quilos, eles eram gritos e gritinhos, ele era filas intermináveis… Perguntei ao senhor agente, simpaticamente, não decidisse ele que eu estava a estorvar o trânsito ao fazer-lhe uma pergunta daquelas ainda por cima àquela hora infernal…

– Senhor agente, pode dizer-me o que se passa aqui?  – atirei com pezinhos de lã e sorriso aberto.
– É um concerto! – respondeu secamente o senhor agente, sem dar tréguas ao seu ar façanhudo.
– Mas concerto de quem? O senhor pode dizer-me, por favor? – insisti.
–É a Violeta!

Bem, nem me passou pela cabeça dizer ou perguntar mais nada. Ala que se faz tarde… E pirei-me. Violeta? Mas quem é Violeta? Alguma exposição de flores acompanhada de worshop? Alguma marca de bandoletes? Alguma boneca daquelas que falam e andam e quase se tornam gente? Admiti a minha ignorância. Onde terei eu andado que não sei quem é a Violeta, pá? Senti-me mal. Primeiro, foram as tonturas e depois um nervosismo miudinho que se apoderou de mim… Violeta, Violeta, Violeta… Não via a hora de chegar a casa e correr a investigar. Eu, uma professora de Português, não sei quem é esta personagem tão importante da vida de tanta gente? Ora bolas! Que professora falhada! Ou então algo de grave se passa com a miudagem da minha escola e das minhas aulas,  a quem nunca ouvi falar de tal Violeta.
Mal entrei em casa nem me lembrei de colocar os congelados no seu devido local e corri para o computador. Como era mesmo o nome? Julieta? Juliana? Nada. Google. Pum: Violeta. A 24 e 25 de Janeiro chega a Portugal, pela primeira vez, o espectáculo Violeta Live, um espectáculo ao vivo emanado da série do Disney Channel , “Violetta” e que estará em exibição no Meo Arena em Lisboa. Tudo bem, um aproveitamento da Disney a fazer render o peixe, como habitualmente faz. O que eu não sabia é que havia uma série chamada Violetta. Mas por que razão haveria de saber? A digressão passará por Espanha, Portugal, França, Itália, Bélgica e Holanda, lê-se na notícia, que continua assim:  em 2013/14, a primeira digressão, “Violetta” abriu em Assunção, Paraguai. De seguida mudou-se para a Europa onde apresentou 62 concertos em 15 cidades de Espanha, Itália e França.
Bem, 62 concertos é porque a coisa é em grande e deve ter qualidade – pensei. Vamos então lá saber o preço dos bilhetinhos, a ver como vai a crise pelo nosso país. Ora foi aqui que me senti desfalecer. Principalmente porque os tais magotes eram mesmo isso: magotes. Paizinhos e mãezinhas com uma catrefada de rebentos. Portanto, tenho de partilhar o valor dos bilhetinhos da Violeta:

Plateia A    79.00€
Plateia B    65.00€
Plateia C    55.00€
Balcão 0 i    69.00€
Balcão 0 ii    55.00€
Balcão 1 i    59.00€
Balcão 1 ii    49.00€
Balcão 2    35.00€
Mobilidade Condicionada 35.00€
Golden VIP Pack 150.00€
Diamond VIP Pack 200.00€
VIP – Meet&Greet Pack 500.00€

Depois de ver que os preços dos bilhetes eram acessíveis a qualquer bolsa, fiquei descansada. Então, agora percebia por que o Meo Arena estava cheio. Mas não desistira ainda. Fui tentar saber um pouco mais da dita Violeta. Numa entrevista à Revista Caras, a garota adolescente, cuja carreira começara aos 14 anos, afirma do alto dos seus 16 anos:  Nem tudo é cor-de-rosa. Passo os dias fazendo e desfazendo malas. Às vezes, chego a um quarto de hotel e só desejo estar em minha casa, então me desespero e choro, sem saber o motivo. Outras vezes, sinto um vazio e me pergunto como posso estar assim, mesmo cercada por tantas pessoas que me amam. Mas sinto muita saudade…
Saudade… Sente ela e sinto eu. Saudade do tempo em que a vida se fazia sem holofotes e as crianças sonhavam, com os livros, através dos livros… não à frente de um ecrã.
Que fique bem claro. Não tenho absolutamente nada contra a Disney. Ou contra A Violeta. Ou contra a Fanc. Ou contra os pais e as mães. Ou contra as crianças que gostam da Violeta. Mas tenho este defeito de ficar a cogitar… e andei às voltas pela casa a pensar se não estaremos a produzir gerações de gente evadida, deslumbrada pela fama, pela luz, pelo palco, pelo show, pela imagem… Não será esta a geração a que mais precisaria da Violeta, não a que canta em cima do palco, mas a chama, a tal chama violeta…?