Pessoas do Parque

Não nasci em Lisboa. Mas habituei-me a vir a Lisboa desde que nasci. Estudei arquitetura em Lisboa, nas Belas-Artes, no Chiado. Conheço relativamente bem a cidade e vim morar para Lisboa quando me casei. Escolhemos morar no Parque das Nações, estava ainda muita coisa em construção, parecia bonito e dava-nos jeito. Era ao pé da ponte que usávamos todos os dias para sair da cidade e descobrimos, quase por acaso, um prédio muito bem desenhado, com um fantástico apartamento que era mesmo à nossa medida. Tinha um jardim em frente. E tinha rua. Tinha espaço para as pessoas. Um espaço público com desenho e dimensão. Não era só o que sobrava dos edifícios, até tinha sido feito primeiro! Tinha qualidade urbana. Às vezes até parecia grande demais, mas era sempre bom.
Foi há onze anos. Agora já mudámos de casa. Mudámos de casa, mas não mudámos de sítio. Quisemos continuar aqui. Crescemos como família aqui no Parque das Nações e vimos o Parque das Nações crescer, consolidar-se. Mais gente, mais carros, mais coisas, mais urbano, mais cidade. A cidade concretizada! Depois de imaginada…

Gosto do Parque das Nações, mas confesso que não gosto de Parque das Nações. Digo muitas vezes a quem me conhece Bairro das Nações. Gosto mais. Gosto mais de pertencer a um bairro, a um pedaço de cidade. Gosto menos de parque, de reserva, de espaço especial e de exceção. Ao Parque das Nações falta ainda qualquer coisa, isto, ser verdadeiramente Lisboa. Ser uma coisa normal. Ser um pedaço de cidade, bom e mau como todos os outros. Quando tenho de ir a outras zonas da cidade, às vezes, ainda digo, por brincadeira, que tenho de ir a Lisboa. Está no bom caminho, mas ainda precisa de mais. Precisa de se consolidar mais, de ter mais gente, mais lojas e ainda mais vida de bairro. Precisa de continuidade, de se abrir, precisa de Marvila, do Poço do Bispo e dos Olivais. Precisa do elétrico à beira rio até Santa Apolónia e de muitos autocarros a atravessarem-no de norte para sul e de sul para norte. Precisa de estar mais ao pé de tudo, a pé e de bicicleta.
Agora, há uns anos, trabalho aqui no bairro. Na Parque EXPO. Vivo aqui. Às vezes não saio daqui durante dias. E é bom! Penso e faço cidades todos os dias. É o meu trabalho. Mas as cidades não se fazem, criam-se condições para que elas se façam. Se construam, aconteçam. E este pedaço de cidade até nem cresceu mal! É um bom exemplo de que toda a gente gosta, cá e lá fora, e toda a gente vem ver como é e como é que se fez, mas não se fez, vai-se fazendo. Todos os dias, nós todos que aqui moramos ou trabalhamos fazemos mais um pouco. Para nós, por nós e para todos.

E fiz uma coisa gira, desenhei a escola onde o meu filho estuda. Foi difícil, talvez o projeto mais difícil que fiz por imaginar que ele um dia iria para lá. Está ainda incompleta e é pena. É pena por ser uma escola inacabada mas também por ser uma escola que, por isso mesmo, não pode ainda ser aquilo em que eu acredito – um espaço da comunidade. Que temos todos nós de construir. Para mim, uma escola deverá ser uma referência urbana e cultural. Um equipamento agregador e fundamental para a consolidação das vivências urbanas da população por ela servida. Uma escola completa e aberta. Aberta a todos. Onde todos possamos ir ler, estudar, brincar, jogar, fazer desporto, ver cinema, teatro e exposições. Será assim um dia a escola que desenhei para o meu bairro? Estou certo que sim!