Parque das Nações de Bicicleta!

Já imaginou as ruas do Parque das Nações com mais bicicletas a circular do que automóveis? Parece uma miragem, mas poderá vir a acontecer num futuro não muito distante.

Será provavelmente uma vida mais agradável, mais descontraída, com menos poluição e menos ruído, mais segura, com mais crianças nas ruas, mais económica, mais autónoma, em muitos casos menos consumidora de tempo, em geral mais humana.
Imagine-se a si próprio, todos os dias, a ir fazer as compras da semana, a levar os filhos à creche ou escola, a ir beber um copo junto ao rio ao final do dia, ou mesmo a ir para o trabalho, diretamente de bicicleta ou intermodalmente com o metro ou comboio.
Para o comum dos mortais, parece uma utopia apenas realizável num mundo diferente. Para o comum dos lisboetas, a bicicleta ainda não entra sequer no leque de opções de mobilidade disponíveis. Carro, transportes públicos, pé ou mota, são as opções que até agora entram na equação. A bicicleta perde por falta de comparência.
Mas existem sinais de que estamos a chegar ao ponto de não retorno na mudança para uma cidade repleta de ciclistas. Nos últimos três anos, tal como no resto de Lisboa e diversas cidades nacionais e europeias, o número de utilizadores de bicicleta para fins utilitários multiplicou-se. Se ainda são poucos, antes eram praticamente zero. Se há pouco tempo atrás um ciclista na rua era um objeto estranho para condutores, agora está a tornar-se algo normal e aceite. A bicicleta está na moda, é alvo de conversa e de anúncios publicitários. Surgem novas lojas, agora orientadas para a bicicleta utilitária em vez de apenas a bicicleta de lazer.
A dinâmica de crescimento parece ser avassaladora. É uma transformação que inverte uma tendência de décadas do crescimento do automóvel que sufocou as nossas cidades e a sua habitabilidade. A revolução anunciada foi a do carro elétrico, a que parece estar a acontecer é a da bicicleta… sem necessidade de mega-investimentos.
Mas para este cenário se concretizar é necessário remover algumas barreiras. Coloquemos de parte aquilo que a administração pública poderia fazer pela bicicleta. Mesmo sem ela, o Parque das Nações já tem condições ímpares para a sua utilização. O que falta então para vermos mais utilizadores de bicicleta na rua?
O desconhecido causa medos, desconfianças, preconceitos, mitos. É assim também em relação à utilização da bicicleta em meio urbano. A impossibilidade de andar no meio do trânsito, as colinas, o tempo, a insegurança, são barreiras repetidamente referidas, mas que fazem pouco sentido na maioria dos casos.
Independentemente de outros fatores, o primeiro grande passo para a mudança é a primeira experiência. Ela permite tornar conhecido o desconhecido, atirar mitos para a gaveta e vivenciar as coisas boas que deslocar-se de bicicleta tem.
Mas porque implica o atirar-se para o desconhecido, incluíndo algumas escolhas incialmente difíceis, a primeira experiência é muitas vezes adiada ou posta de lado. Por outro lado, as primeiras experiências podem tornar-se desagradáveis se o experimentador vivenciar situações de insegurança, desconforto ou cansaço. Existe por isso também o risco de estas desmoralizarem o novo ciclista e de o fazerem prematuramente colocar de parte a bicicleta. Andar de bicicleta, em meio urbano, tem as suas dificuldades, que podem requerer algumas competências básicas para serem ulprapassadas.
Um grupo de utilizadores de bicicleta, residentes e trabalhadores da zona oriental de Lisboa, decidiram meter mãos à obra neste processo de mudança e abrir caminho para remover este tipo de barreiras. Em conjunto com a Associação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações (AMCPN), estão a desenvolver algumas iniciativas que ajudarão os residentes e trabalhadores locais a ultrapassá-las.

Bike Buddy
A AMCPN associou-se à iniciativa Bike Buddy, um projeto da MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta – que passa por acompanhar e aconselhar os utilizadores de bicicleta nas suas primeiras experiências de deslocação em bicicleta, de casa para o trabalho.
Os bike buddies acompanham o utilizador inexperiente durante as suas primeiras experiências casa-trabalho-casa, com o objectivo de familiarizar o novo utilizador com a utilização da bicicleta em contexto urbano. Neste percurso, aconselham sobre rotas a percorrer, equipamento, segurança, legislação, atalhos e truques que permitam facilitar a deslocação de bicicleta pela cidade.
No caso do Parque das Nações e zonas circundantes, em que o transporte multimodal é uma opção de destaque, as experiências poderão também passar por acompanhar o novo utilizador à estação de transporte mais próxima (como a Gare do Oriente) ou até em fazer o percurso até ao destino final, utilizando complementarmente um meio de transporte em que o transporte de bicicleta seja possível (comboio, metro em bicicleta dobrável, autocarros da Carris nº 21, 25, 31, 708).
O serviço é prestado de forma gratuita – todos os buddies são voluntários empenhados em ajudar pessoas a utilizar a bicicleta em meio urbano. Se quiser recorrer a um buddy na zona do Parque das Nações só tem que contatar a AMCPN através do [email protected] ou do número 932037474.

Cicloficina do Oriente (1ª Terça-Feira de cada mês)
Uma importante barreira à utilização da bicicleta é a capacidade de resolução de problemas básicos de manutenção da bicicleta por parte do utilizador. Nalguns casos, como um furo, um problema que seria facilmente solucionável pode estragar uma viagem se o utilizador não estiver preparado para ele. Mudanças mal afinadas podem tornar a experiência menos confortável e saudável para a bicicleta. A segurança é um aspeto essencial e uma simples verificação e afinação de travões pode evitar problemas.
A cicloficina é uma iniciativa que presta assistência em problemas básicos de mecânica e ajuda os utilizadores de bicicleta a aprenderem operações básicas de mecânica da bicicleta. Através desse ensinamento, poderão ter mais autonomia, conforto e segurança, sem depender de terceiros, com capacidade para resolução de problemas em casa ou na estrada.
A Cicloficina é informal, voluntária (grátis) e aberta a todos os que queiram participar, sejam aprendizes ou colaboradores.
Mais ainda do que um espaço de reparação e aprendizagem, a cicloficina torna-se um espaço de sociabilização entre membros da comunidade com interesses comuns. Ela é também uma oportunidade de aprender, discutir e atuar sobre outros temas  relacionados com a utilização da bicicleta como meio de transporte.
A Cicloficina do Oriente estreou-se no dia 3 de Julho e foi extremamente agradável para todos os que participaram. Irá acontecer uma vez por mês, todas as primeiras Terças-Feiras de cada mês, junto à sede da AMCPN (Caminho do Arboreto, nos jardins do lado Norte). Veja mais pormenores em http://cicloficinaoriente.wordpress.com/.