Obrigado.

Era suposto não o fazer, mas tornou-se irresistível. Pegar em cada uma das 53 primeiras páginas do Notícias do Parque (para a página de aniversário) foi como olhar para um álbum de fotografias. Lembrava-me perfeitamente de cada uma delas  e de todos os pedaços de memória que vêm agarrados. Do dia, da hora, temperatura de cada uma das fotografias da capa.  O estranho é que parece tudo distante e próximo ao mesmo tempo. Ao olhar para a capa da edição n.º1 e ao ver a fotografia do António-Pedro Vasconcelos (que tinha convidado para escrever um artigo sobre cidades) lembrei-me que a fiz em casa dele, ainda, com a minha máquina fotográfica analógica. Lembro-me perfeitamente do dia, da hora, das conversas que tivemos. Lembro-me onde revelei as últimas fotos, lembro-me da luz, de fim de tarde, que entrava no escritório enquanto escrevia o editorial. E isso sucedeu com muitas delas. E, em todas elas, esses pedaços de memória surgiram como breves flashes, apontamentos vivos. Estranho para quem não costuma olhar muito para trás. Mas, o facto é que cada uma dessas capas é, na verdade, uma fotografia do passado. Uma fotografia quase igual a uma fotografia de família. E torna-se clara, agora, a razão. Costuma dizer-se que existe uma diferença entre aquilo que somos e aquilo que fazemos. Sempre relembrei esse facto em conversas com amigos meus que passavam por momentos mais desmotivantes na suas vidas profissionais. Sempre tentei que não deixassem que o lado profissional invadisse, contaminasse o lado pessoal. Sempre tentei passar a mensagem de que primeiro “somos” e só depois “fazemos”. E que tentassem levar isso com eles para esses dias de tempestade. Mas, facilmente aceito que, no meu caso, tenho a sorte de poder dizer que não existe essa diferença. Ambos acabam por ser quase o mesmo. Aquilo que faço é um prolongamento daquilo que sou.  Misturam-se. Sem filtros, sem máscaras, sem “fatos”. E considero isso uma sorte, uma dádiva. E, acima de tudo, por nunca, até ao dia de hoje, ter duvidado do que faço e da paixão que tenho por o fazer.

Mas não estava mesmo nos planos fazer grandes alusões a este aniversário.
Não sou um saudosista por natureza, nem fã de viagens ou reencontros com o passado. Fujo deles como um puto foge das conversas dos pais a narrarem o parto dele em dias de aniversário. Mas tinha que ser para poder agradecer a todos por fazerem parte de cada página, de cada linha, por serem a nossa inspiração em cada número, entre cada número. Porque sabemos que somos mais do que um jornal e que são mais do que leitores. E não podia ser mais certo o que está na página de aniversário: “O jornal que é escrito pelos leitores”. Obrigado.

Miguel F. Meneses