O Oceanário de Lisboa no Mundo

O Oceanário de Lisboa passou os 7.000.000 de visitantes e conseguiu, no mês de Agosto, a melhor afluência desde a sua abertura ao público.
David Lopes administrador da Parque Expo, em entrevista ao NP, falou sobre os objectivos e posição no mundo do maior aquário da Europa.

Mais de 7.000.000 visitantes. Eram estas as expectativas para os quatro anos do pós-Expo?
7.000.000 de visitantes é extraordinário, mesmo comparando com outros países como os EUA. Na altura não tínhamos ideia do que se iria passar, tivemos 1.200.000 visitantes logo a seguir à Expo. Este ano tivemos um indicador que nos animou bastante: 192.000 pessoas durante o mês de Agosto.

O aquário de Osaka recebeu nos primeiros 5 anos 20 mi­lhões de visitas.
Quando se percebe o mercado e se faz o racio esta comparação com Osaka revela um número fantástico. Temos o exemplo comparativo de Barcelona em que o número de visitas é muito idêntico ao nosso. Nós estamos convencidos de que o número revela o apreço que os visitantes lhe atribuem.
O Oceanário de Lisboa foi considerado, por uma das maiores autoridades nesta matéria, que é o segundo ou terceiro melhor aquário do mundo, sendo que o primeiro é o Aquário de Monterey Bay nos EUA. O Oceanário tem um projecto científico fortíssimo e é por essa razão que em finais de 98 é considerado pela revista Time como um dos 7 projectos científicos mais importantes do mundo. Este é um espaço educativo, de aprendizagem e sensibilização à temática dos oceanos. Temos uma das menores taxas de morte de espécies, os animais vivem com grande qualidade. Neste momento a equipa é 100% portuguesa, somos capazes de exportar tecnologia o que é raro em Portugal.

Quais é que são os principais objectivos?
O Oceanário nasce com a ideia de que é preciso entender que só existe um oceano, e a massa de água está toda ligada e aquilo que nós façamos aqui terá repercussões a nível global, esta é a mensagem mais forte. Os oceanos, a água são o bem mais escasso e valioso do planeta. Os oceanos são património comum temos que ser todos responsáveis por eles.
Em segundo lugar é a mensagem educativa e pedagógica e em terceiro a componente de entretenimento que é indispensável. Os americanos têm neste momento o conceito de “edutertainement” que resulta numa maneira mais apelativa de ensinar e aprender.
Nós fazemos do processo de aprendizagem um processo de prazer. Para alguns o Oceanário é um motivo de reflexão. É como uma espécie de paragem no tempo, é um alimento para o cérebro mas também para a alma. É um espaço onde podemos encontrar uma vida diferente todos dias, ou porque nascem novas espécies ou novas relações. Não é possível fazer duas visitas iguais no Oceanário.

O futuro?
O que estamos a fazer é abrir este espaço à sociedade. Criar um espaço aberto, cultural, onde as pessoas possam encontrar, numa das suas salas, uma exposição que não esteja necessariamente ligada à temática dos oceanos e que seja um motivo que as leve a um sítio que é um ícone em Lisboa.
Vamos desenvolver um conjunto de programas específicos para crianças, jovens empresas, idosos, criar condições de acesso para que ninguém fique de fora. E mesmo para aqueles que não têm capacidade de adquirir um bilhete o possam fazer integrados num programa apoiado pelo Estado e por nós.

O Osaka Aquarium foi construído pelo mesmo arquitecto, numa zona em que não existiam mais do que aterros sanitários e neste momento milhões de pessoas voam todos os anos para esta cidade apenas para verem este gigante. Poderia o Oceanário ser a grande marca das rotas a Lisboa, ou a Portugal?
Irmos pela Europa fora só com o Oceanário de Lisboa parece-nos um esforço meritório mas pesado. O que queremos é que vá sempre como um cartão de visita da cidade Lisboa. Somos mais um motivo para que a nossa cidade seja colocada nas rotas turísticas de todo o mundo. O que estamos a fazer é uma divulgação cirúrgica onde, por exemplo, aproveitamos as rotas da TAP para a exibição de filmes nossos a bordo, utilizamos todos os meios para chegarmos aos turistas que visitam Lisboa. Temos acordos com a Associação de Turismo de Lisboa, que nos diz que o Oceanário já é o segundo equipamento mais visitado por turistas estrangeiros. Isto para nós é um grande motivo de orgulho, por isso temos que o tornar ainda mais visível, como é o exemplo de termos preparado, estes anos, uma acção com a RTP Internacional para que os emigrantes portugueses te­nham o Oceanário presente quando preparam as suas visitas a Portugal.

Quem é que visita  hoje o Oceanário?
Durante a semana muitas escolas, turistas estrangeiros. Temos também as convenções, seminários e alguns portugueses em férias. Aos fins de semana somos visitados essencialmente por famílias portuguesas.
O Oceanário é a âncora. Temos o Atlântico, a FIL, o Vasco da Gama, um mundo de entretenimento e de lazer, de referência. O Parque das Nações passou a ser o destino preferencial ao fim-de-semana. A Parque Expo procurou sempre motivar e criar condições para que os grandes eventos aconteçam cá, numa tentativa de evitar o vazio e o deserto. Houve necessidade de começar a criar animação de cidade para dar confiança aos investidores públicos e privados de que, este espaço, ia ter vida no futuro. Queremos criar todas as condições para que alguém faça, não é por acaso que as empresas, as televisões, agências de publicidade, entre outros, escolhem este espaço.

Então e a nova missão da Parque Expo? Na possibilidade de uma privatização do Oceanário ou do Atlântico não se correrá o risco de inviabilizar o que foi conseguido até hoje?
Esse é um aspecto muito importante e sensível. A palavra privatização é uma palavra algo grotesca neste contexto.

Porquê?
Num ponto de vista meramente económico-financeiro um activo, como este, vale não por aquilo que custou mas por aquilo que o mercado der por ele. É como um carro, compramos um novo e ao fim de 3 anos nunca o vamos vender pelo preço que nos custou. No caso do Oceanário não existe um mercado de privados em Portugal com dimensão ou interesse em comprar um activo que não é possível rentabilizar na perspectiva da sua aquisição. Já não falando do seu enorme simbolismo. Agora é sempre possível, e não é só aqui, como é exemplo no caso dos hospitais, tratarmos da nossa saúde e da dos nossos filhos, em espaços que são geridos por profissionais de saúde.

A privatização será benéfica?
É como em tudo. As nossas companhias de telemóveis são privadas, quando há concor­rência o consumidor tende sempre em ser beneficiado. Tudo isto tem muito a haver com  a maturidade dos processos, do país, ciclo político, meio empresarial daquela área. Nós temos um mandato que nos foi dado pelo governo, melhorar e tornar mais rentável o Oceanário. Não me cabe a mim, nem a este conselho de administração poder pensar que poderá ser privatizada a sua gestão. No dia em que assim for entendido só posso pensar que será para melhor, outro cenário seria inaceitável.

Como é que o Oceanário de Lisboa é visto pelo mundo?
Somos um membro activo dos conselhos e conferências internacionais. Estamos a liderar uma série de grupos de trabalho a nível europeu com os nossos técnicos e fazemos parte da grande rede internacional de aquários em todo o mundo.

Que tipo de cooperação é que existe?
Discutem-se questões comerciais, intercâmbio de exposições, expansão dos aquários. De 7 em 7 anos é possível receber espécies novas. Andamos convencidos que será possível receber uma manta que vai ser com certeza um momento de grande grandiosidade. Discutem-se, também, questões relacionadas com o life support system, matéria onde o Oceanário é um dos mais avançados do mundo. Fomos os únicos a conseguir que as lontras se reproduzissem com sucesso. Temos cerca de 30 elementos na equipa, um número considerável pelo facto de estarmos a funcionar 24 horas por dia.

É extremamente difícil viver-se apenas das bilheteiras…
Não recebemos apoios oficiais. Temos vivido das receitas das bilheteiras e dos nossos mecenas. Hoje temos um único
mecenas, o Banco Atlântico, o qual eu não posso deixar de mencionar e de elogiar pelo facto de perceber a nossa missão e de contribuir com um valor substantivo todos os anos. Agora, é preciso ter um grande dinamismo.

Expansão?
Para existir, o accionista terá que concordar com ela a cem por cento. Terá que ser num cenário credível de sustentabilidade económica financeira. Está pensado mas não é para já.