Mulheres do Parque

Apesar dos teus 24 anos já tens muito para contar. Fala-nos um pouco da sua experiência de vida.
Tenho 24 anos, toda a minha infância vivi em Sintra e aos 10 anos a família mudou-se para o Parque das Nações – foi em Outubro de 1998 e havia muito poucos habitantes sobretudo aqui na zona Norte, nem o Parque do Tejo e Trancão estava terminado…
Mudámo-nos para Lisboa para eu poder frequentar a Escola Alemã de Lisboa, onde concluí todo o percurso escolar.
Em paralelo com as atividades escolares fiz diversas incursões no mundo da música, sendo a principal a integração numa banda de música electrónica no papel de vocalista.
Aos 18 anos fui viver para Londres para estudar Arquitetura – completei a licenciatura com louvores na Westminster University – colaborei durante um ano no ateliê de arquitetura Make Architects, experiência esta que me permitiu aceder à faculdade de arquitetura mais conceituada em Londres, a Bartlett School of Architecture, University College London. Completei lá o curso com um mestrado em arquitetura.  Terminada esta etapa, optei por voltar para Lisboa e criar uma editora de música, a sinnmusik*, com dois colegas – um residente em Barcelona e o outro em Londres. Com a música electrónica como elo de ligação entre nós durante os anos do liceu e da universidade, a criação desta editora foi uma aposta que visa provar que o negócio da música não estagnou e que mais precisamente a música electrónica merece uma promoção profissional, inovadora e dedicada.
Como não podia deixar de ser, hoje em dia, associei-me ainda a um segundo projeto, Love XL, o qual desenvolvemos, numa área distinta: eventos (sobretudo casamentos) em espaços urbanos originais.


Como foi a tua experiência em Londres comparativamente com Portugal?
Gostei muito de viver lá! Londres é uma cidade elétrica, dinâmica e em permanente evolução – mas nem sempre a um ritmo harmonioso ou digerível… quando me mudei para Londres era mesmo esta dinâmica e uma certa anonimidade que eu procurava.
Apesar de me sentir atraída pela dinâmica e anonimidade de Londres, também entendi rapidamente que a liberdade conseguida tinha uma outra face da moeda: uma solidão que eu não conhecia e com a qual não me identifico. Nesse contexto e, possivelmente por causa disso, criei amizades com pessoas mais calorosas e mais parecidas comigo, recriando assim um pouco de Lisboa, em Londres… e posso dizer que esta convivência com amigos, associada à excelente formação profissional à qual tive acesso, permitiu-me crescer, evoluir e divertir-me muito.

No regresso como viste o nosso país? E o Parque das Nações?
A decisão de voltar para Lisboa foi espontânea e repentina! Terminei o curso em Junho passado e decidi romper com todos os planos que tinha desenvolvido, até essa data, para mergulhar numa experiência completamente nova, tanto na área (passei da arquitetura para a música) como no modelo de negócio (passei da ideia de trabalhadora por conta de outrem para empresária). Vejo o nosso país como um espaço com inúmeras oportunidades e o Parque das Nações como uma plataforma sobre a qual poderei construir a minha nova realidade profissional. Começar do zero numa área como a arquitetura não me alicia com a mesma força da música. Sei, no entanto, que sem a minha formação na área da arquitetura não teria tido a coragem e competência para me tornar empresária. Sair do país durante 6 anos permitiu-me apreciar cada aspeto positivo que existe em Portugal. Aprecio muito o Parque das Nações! A qualidade de vida que aqui conseguimos ter é mesmo única – uma maravilhosa sintonia entre o pulsar da cidade e a natureza.

Como vês o futuro neste país, para ti e para os jovens da tua idade? Enquanto alguns portugueses imigram tu regressaste…
A minha avó sempre me instigou para não seguir tendências, mas para criar a minha própria realidade, mesmo quando pareça ser contra a maré… Acho que esta mensagem continua comigo e influencia-me em muitos aspectos. O facto de jovens imigrarem não me assusta nem me motiva para continuar fora de Portugal. Senti que era mais natural começar a construir a minha realidade profissional, aqui em Lisboa, e sinto-me extremamente privilegiada por ter o apoio da minha família e dos meus amigos mais próximos nesta decisão pessoal que tomei.

Os teus pais (Livia Tirone e Ken Nunes) tiveram uma influência, aqui, no PN com a construção de alguns edifícios bioclimáticos como a Torre Verde e a Torre Sul.
Sim, sinto-me orgulhosa por eles terem sabido liderar na área da sustentabilidade na construção, influenciando o rumo desse setor em todo o país. Conheço, no entanto, o outro lado da moeda, porque as dificuldades deste setor são inúmeras, também em tempos bons e não chegam as melhores competências e intenções para assegurar o sucesso de cada projeto. Foi em parte essa luta árdua dos meus pais que me motivou a escolher, inicialmente, a carreira académica de arquitetura… Achei que me daria uma boa base, maturidade e força para qualquer que fosse a minha profissão futura. Mas com um mercado tão deprimido em que o setor da construção raramente mostra sinais vitais, não sinto que seja possível para mim criar uma carreira nesta área, pelo menos por enquanto.

Quais as sugestões que gostarias de propor, aqui, para o Parque das Nações?
A sinnmusik* dedica-se a lançar criações musicais e promover os respetivos autores. Um dos projetos a que estou dedicada no âmbito desta atividade é a organização de eventos em contextos urbanos, de elevada qualidade, atualmente ignorados: as coberturas dos edifícios! Com um clima tão privilegiado, com vistas tão deslumbrantes como temos em Lisboa, parece-me essencial potenciar o convívio entre pessoas e associá-lo a talentos locais / nacionais. Fascina-me explorar potencialidades que passam despercebidas quando junto dois mundos que se complementam, apesar da sua associação não ser óbvia…