Mulheres do Parque

Sara, fale-me um pouco de si.
Sou licenciada em comunicação social, na vertente do Jornalismo internacional. Entrei na Vogue praticamente desde que saí da faculdade, onde estou desde 2004 (estágio)/2005 (equipa). Comecei por integrar o departamento de moda, onde exercia jornalismo e produção, como assistente, e desde 2010 que ocupo o lugar de editora da Vogue Online, um departamento que engloba todos os suportes digitais da publicação: site, blogues, redes sociais, microsites. Para mim, profissionalmente, é o local onde quero estar. E me faz feliz. O on-line não é algo completamente inédito na minha vida – desde o último ano da faculdade, e por um período de 4 anos, dei aulas de informática (vertente prática) ao terceiro ano de Comunicação Social do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (Universidade Técnica de Lisboa). Já na Vogue on-line, sinto particular prazer em termos sido o primeiro meio de comunicação digital de Moda a fazer a transmissão em direto da ModaLisboa e Portugal Fashion via internet.

O seu pai é um apaixonado pelas atividades náuticas – Paulo Andrade – que faz a rubrica náutica neste jornal. A mãe – Elisabete Canha de Andrade – relações públicas, especialista em protocolo e autora de livros sobre protocolo. Como é que a filha foi para uma área tão diferente?
Na verdade, apesar de as profissões diferirem, certos traços e especialidades das mesmas, até se tocam com o jornalismo: a minha mãe é também Relações Públicas e uma comunicadora nata, e o meu pai tem uma capacidade de análise invejável, tudo características fulcrais para um trabalho jornalístico de qualidade. A opção pela comunicação social nasce de uma evolução natural dos meus gostos e personalidade enquanto crescia: sempre gostei de falar, discutir, debater e o Português era uma das disciplinas na qual estava mais à vontade. A Moda sempre foi uma paixão pessoal (aliás, no secundário, quase seguia artes com o design de Moda em vista), por isso ter conseguido chegar a esta área foi juntar o melhor de dois mundos.

Parabéns! Ganhou o prémio de melhor comunicação digital na área da comunicação de moda. Como vê esse prémio?
Com orgulho e satisfação. Julgo que acaba por ser uma espécie de reconhecimento quantificável por um trabalho bem feito. Acima de tudo, é o recompensar de uma equipa que realmente coloca a bitola por cima, no que toca a fazer um trabalho de qualidade, que não conhece horas porque o online não tem horários ou dias de semana, e que é apaixonada pelo que faz e isso transparece. Acaba também por consagrar o Vogue.pt como uma plataforma de comunicação de excelência na indústria de Moda. Além de trazer a vantagem de funcionar como uma recomendação desta morada e fazê-la chegar a pessoas que talvez não estivessem ainda familiarizadas com ela.

Quais as suas recomendações para uma boa comunicação on-line?
Julgo que, acima de tudo, é estar em cima do acontecimento, ser rápida, mas com qualidade, na resposta e na cobertura de determinado evento. Hoje em dia, já há o livestream (transmissão de um acontecimento em direto), redes sociais que são de fácil acesso a partir de qualquer smartphone, recursos portáteis que permitem a recolha de dados no local e a sua divulgação imediata enquanto informação. Por isso, a exigência do público no acesso à informação é muito maior do que alguma vez foi – e as hipóteses de escolha também: se nós não tivermos a informação, a audiência vai procurá-la em qualquer outro lugar. É importante ser o primeiro, mas é também relevante ser o primeiro com a informação completa e com um jornalismo de qualidade. Por isso, a equipa do Vogue.pt sabe que se é um sábado, domingo, fora do horário de expediente usual, mas há um desfile, uma entrega de prémios, alguma novidade de peso na área da Moda, isso para nós é tempo de trabalho. Depois, é estar atenta às necessidades da audiência em termos de informação e responder a essas necessidades, dentro da nossa linha editorial. O objetivo é não defraudar o público e sempre superar as expectativas tanto dos outros como as nossas – e numa altura em que o online é um oceano de opções, essa exigência é cada vez maior.

Certamente já se deparou com pessoas que consideram a área da moda uma área fútil e outras que a veem como um deslumbramento. O que lhe parece?
É óbvio que nós não andamos a salvar vidas, mas é uma área de interesse como qualquer outra que preenche as necessidades criativas e sensoriais de quem dela gosta. Tal como a música pode ajudar a fazer sentir melhor, ser um móbil para algumas pessoas ocuparem os tempos livres, a Moda é uma parte da sociedade que ajuda a definir-nos enquanto humanos – com as suas necessidades físicas e psicológicas -, que não vivem apenas dos instintos de sobrevivência e precisa de estímulos criativos. Também se esquece, muitas vezes, que a Moda é um negócio que move milhões – de euros e de pessoas – e que contribui significativamente para a riqueza de um país e para a criação de postos de trabalho. É também redutor pensar que a Moda é algo fútil e excêntrico que só está ao alcance de uma elite: a Moda é uma indústria que abrange variadas vertentes e não passa só por um par de semanas de desfiles que acontecem num punhado de capitais mundiais. Se formos a pensar, quando qualquer pessoa escolhe o que vai vestir no dia-a-dia, está a entrar no campo da Moda – por mais que julgue ou advogue que “não se interessa pelo que vai vestir”. Todas as opções de vestuário são conscientes, são editadas consoante uma personalidade; todas as escolhas de roupa são opções e são consumos de Moda. E isso não é uma futilidade – principalmente se essa opção contribuir para um estilo de vida mais feliz, para um nível de confiança maior e, em última instância, como consequência, para um sucesso palpável na vida pessoal e profissional.

E a anorexia e as modelos?
É uma realidade, mas não é uma tendência ou verdade absoluta. Seria impossível dizer que não acontece com nenhuma modelo e que elas são todas saudáveis, mas é um estereótipo. E como estereótipo é largamente exagerado, embora possa encontrar alguma corroboração em casos pontuais. Acontece, mas nem todas as modelos que são magras são-no porque têm distúrbios alimentares. Há muitas modelos que simplesmente têm uma genética propensa à magreza. E ao contrário do que se julga, a indústria atual não fomenta, pressiona ou promove este género de prática: as Vogues de todo o mundo têm agora um projeto intitulado The Health Initiative que congrega uma série de regras para salvaguardar a saúde física e mental destas profissionais, com diretrizes que determinam que as publicações deste título devem usar modelos saudáveis, não demasiado jovens… E as próprias modelos criaram uma aliança – a Model Alliance, encabeçada por uma já reconhecida da área, a Sara Ziff, cujo objetivo é também olhar pelos interesses e proteção de quem circula nesta vertente do negócio. É preciso não ser-se redutor quando se fazem juízos, nem generalizar conclusões – seja sobre as modelos que fazem parte desta área, seja sobre a sua influência em determinados flagelos.

Tem alguma sugestão aqui para o Parque das Nações que queira partilhar?
Na área da Moda? Temos vários espaços comerciais virados para as ruas do Parque ainda não utilizados e não há muita diversificação de serviços. Seria uma boa ideia colocar negócios que apelem ao público e que façam mover clientela – um Santini, quem sabe, que está sempre repleto seja Inverno ou Verão. Em termos de lojas de roupa e lifestyle, julgo que há muito poucos sítios em Lisboa que vendam criadores nacionais. Gostava de ver uma multimarcas, aqui pela zona, com roupas das nossas casas de Moda, embora seja um negócio muito específico. Galerias de arte, espaços com vintage (móveis e roupas), restaurantes gourmet, pontos que façam mover os habitantes do Parque, mas também os de fora, a virem cá sem ser apenas num dia de Sol.