Mulheres do Parque

Andei vários meses a amadurecer a ideia de entrevistar a Subcomissário Cátia Santos. Se, por um lado, tinha muita curiosidade em o fazer – uma mulher jovem, numa posição de comando, num mundo de homens, não é comum – por outro, coloquei-me um pouco no seu “papel” e pensei até que ponto poderia aceitar esta conversa.
Decidi, então, convidar a Subcomissário para a entrevista. E para surpresa minha, aceitou prontamente…
No local encontrava-se também a Chefe Isabel e a Subcomissário sugeriu a seguinte ideia: “e se a entrevista fosse com as duas, que asseguramos o comando desta esquadra? Podia ser interessante…”
Considerei uma ideia muito interessante. Por isso, nesta edição fomos falar com a Subcomissário Cátia, que assegura o comando desta esquadra, coadjuvada pela Chefe Isabel.   

Subcomissário Cátia Santos, fale-me um pouco de si.
Sou natural de Leiria, tenho 26 anos e em 2005 vim estudar para Lisboa onde ingressei no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna. Após terminar o Mestrado vim para o comando da 40ª Esquadra, aqui no Parque das Nações. Em 2011, prestei serviço na 2ª Divisão Policial do Comando da PSP de Lisboa, nos Olivais. Em 2012 voltei à 40ª Esquadra, onde me encontro até hoje.

Qual é a reflexão que faz deste seu percurso?
Apesar de ainda muito curto, deu-me a oportunidade de crescer como Oficial e também como mulher, conhecer melhor a instituição que orgulhosamente integro e confirmar que ainda tenho muito a aprender.

E a chefe Isabel Rebanda?
Sou natural do Porto,  tenho 45 anos e em 1990, frequentei o Curso de Formação de Guardas, na Escola Prática de Polícia, em Torres Novas. Após o curso ingressei na PSP onde passei por várias esquadras e departamentos, em Lisboa, e nos Açores.
Em finais de 1999, terminei a comissão de serviço nos Açores e fui colocada nesta esquadra. Permaneci até finais de 2005 e, por conveniência de serviço, ausentei-me, mas regressei em 2011. Tem sido interessante ver a evolução deste bairro. Atualmente exerço funções de supervisora dos Programas Especiais e coadjuvo a Sr.ª Subcomissário Cátia.

Subcomissário Cátia, desde criança escolheu ser polícia, porquê?
Desde sempre quis ser polícia, apenas baseada no sentido de missão que assoberba as ideias de qualquer criança.

Via os polícias como os “heróis”?
Sim, eram os heróis, os vencedores, os que ajudavam as pessoas contra os “vilões” [sorrisos].

Manteve sempre essa persistência?
Ao longo do tempo havia quem me dissesse que esta persistência se ia desvanecer. Mas esta contrariedade ainda me fez mais vontade de lutar pelo meu sonho.
Hoje, em nada me arrependo. Estou muito realizada, sinto-me útil e fazer parte desta Instituição são algumas das razões que me motivam todos os dias.

E o serviço de um agente, era o que imaginava?
Não. Tem muito mais do que as pessoas pensam. Até dediquei esta edição do jornal a explicar as várias valências da polícia.  

E a Chefe Isabel?  Porque escolheu este percurso?
Não foi em criança, mas já na adolescência, que sempre me atraiu o interesse pela prevenção da criminalidade, a segurança da população,  o apoio, a ajuda aos cidadãos.

Qual é a função de um Subcomissário? Como é o seu dia-a-dia?
A função de um Subcomissário tem duas vertentes, uma administrativa e outra mais operacional. O dia-a-dia passa por despachar inúmero expediente, que é muito diversificado. O mais prioritário são as ocorrências com o Carro Patrulha, as queixas recebidas no atendimento ao público, aspetos referentes ao trânsito, a gestão do pessoal e do material da Esquadra. Temos muitas outras funções que podem, ou não, ser diárias. Sabemos sempre a que horas entramos – mas a hora de saída – é quando o serviço o permitir.

E de um Chefe?
(Chefe Isabel) A minha função é apoiar o Comandante de Esquadra – na sua presença ou ausência – e em tudo o que for necessário, segundo as suas orientações.

Considero esta uma profissão com bastante desgaste psicológico, para além de físico. Lidam diariamente com o “mal”. Como é que compensam esse desgaste? Onde vão buscar “forças”?
(Subcomissário Cátia) Penso que qualquer polícia, em primeiro lugar, vai buscar forças quando o seu trabalho é reconhecido pelo cidadão – que vê a justiça ser feita.  Também, através de um simples sorriso, de quem se sente seguro na área que servimos. De igual forma, a família, o bom ambiente de trabalho que existe e o exercício físico que pratico são excelentes aliados.

Costuma correr de manhã, aqui, no Parque das Nações, antes de entrar na esquadra.
(Subcomissário Cátia) É verdade! No verão de manhã, no inverno mais ao final da tarde… Mas agora não o faço porque estou grávida. Mas o desporto tem de continuar a ser parte integrante do meu dia. Entre caminhadas pelo Parque das Nações, também faço umas aulas mais calmas, no ginásio, como o pilates.
(Chefe Isabel) Em casa, junto da família e dos amigos. Também, por vezes, vou correr aqui no Parque das Nações, à hora do almoço.

Na manifestação de setembro, aquela foto, muito comentada, da jovem que abraçou o polícia. Como interpreta isso?
(Subcomissário Cátia) “Existimos para o servir” é um dos lemas da PSP que ninguém deve esquecer. Esta jovem, na minha opinião, com esse gesto mostra-se reconhecida e decidiu retribuir, ao seu jeito, o nosso empenho.
(Chefe Isabel) Vi como uma manifestação de compreensão e tolerância para com uma força policial que tem uma missão difícil: zelar pela manutenção da ordem pública, defender as instituições democráticas, proteger a sua integridade física e a dos intervenientes na manifestação. Compreendo os manifestantes porque o seu objetivo é desabafar e demonstrar as suas dificuldades, anseios e preocupações, com a circunstância atual e futura.

Como polícia, se estivesse naquele lugar, o que teria sentido?
(Subcomissário Cátia) Quando perguntou onde vamos buscar forças, respondi que também poderia ser através de um sorriso de quem se sente seguro. Poderia também ter dito – de um abraço de quem reconhece o nosso empenho! [sorrisos].
(Chefe Isabel) Como elemento policial, naquela missão específica, teria sentido compreensão, carinho, tolerância, acolhimento.

Mas nem sempre tudo decorre bem… recentemente alguns colegas seus ficaram feridos nas manifestações
(Chefe Isabel) Pois, é o risco desta profissão. Ainda não me aconteceu isso, mas há colegas que põem em risco a sua integridade física para cumprir a sua missão.

Não deve ser muito comum duas mulheres comandarem uma esquadra  onde maioritariamente existem homens…
(Subcomissário Cátia)  Já foi mais invulgar. Nos nossos dias as mulheres já não são discriminadas. Nas mais variadas áreas, não só na polícia, já demonstrámos que somos tão capazes como os homens. No comando desta Esquadra sinto-me bem e tenho a certeza de que nenhum dos elementos que comando tem qualquer preconceito. Basta darmos o nosso melhor, que o nosso valor e dedicação sobrepõem-se a qualquer juízo de valor.
(Chefe Isabel) Não é muito comum, mas poderá ser um “casamento feliz”. As mulheres têm outras sensibilidades que poderão dar bons resultados. A nossa interação com os agentes, a sociedade em geral, os moradores, os vários serviços existentes no Parque das Nações têm sido bastante positivos, felizmente. Cada vez mais se verifica uma maior disposição, por parte das mulheres, em ascender a funções de chefia. Mas para isso devem ser criadas oportunidades para isso acontecer. A oportunidade, a vontade, a disponibilidade, a persistência, são fatores necessários para um bom desempenho.

Quer partilhar connosco um episódio da sua profissão?
(Subcomissário Cátia) Já tenho alguns momentos que me deixam muito orgulhosa do meu empenho, fico muito contente quando algumas vítimas vêm à nossa Esquadra, apenas para agradecer a forma  como foram atendidas e como o seu caso foi encaminhado. Já me aconteceu ligarem-me a confidenciar que ganharam a causa em tribunal ou que os seus processos estão a decorrer bem. Isto mostra-me que estamos a fazer um bom serviço e há quem o reconheça.   
(Chefe Isabel) Quando em 1999 estive nos Açores vivi momentos muito agradáveis. Éramos muito bem acolhidos pelas populações locais, que ficavam muito contentes quando nos viam. Éramos tratados como amigos “diferentes” que os iam visitar. Até nos convidavam a lanchar em suas casas. Era muito enriquecedor em termos humanos!

E algum menos agradável?
(Subcomissário Cátia) Quando estamos a proceder a fiscalizações rodoviárias, não é muito justo  quando os cidadãos dizem aos agentes que, em vez de os autuar, deviam estar a “apanhar criminosos”. Mas não teríamos que o fazer, se essas pessoas não estivessem a prejudicar a liberdade dos outros, no caso dos estacionamentos. Recebemos muitas chamadas e reclamações de cidadãos, quer moradores quer visitantes do Parque das Nações porque as suas viaturas estão trancadas por outros veículos mal estacionados ou, então, porque não conseguem sair das suas garagens. O ideal seria não termos que o fazer, pois isso significaria que as pessoas andavam dentro da legalidade e respeitavam-se umas às outras.

O que gostariam de dizer aos nossos leitores sobre o Parque das Nações?
É um privilégio poder fazer parte desta população. Todos os moradores também o deviam sentir e fazer um esforço para tornar o Parque das Nações num local cada vez mais aprazível para se viver, trabalhar e passear. Para tal, os que ainda não o fazem, devem respeitar os estacionamentos dentro da lei ou sensibilizar os seus vizinhos para o fazerem. Para nos ajudar devem, sempre que tenham conhecimento de algo estranho nas vossas ruas, comunicar a esta esquadra ou a algum agente com que se cruzem pelo Parque das Nações. Lembramos que estamos de serviço 24h por dia e a ajuda de todos é fundamental para o nosso sucesso.