Mulheres do Parque

Ana, fale-me um pouco de si.
A pergunta não é fácil… Adoro ler e estar na praia. Sou mãe de um rapaz e de uma rapariga. A minha área de formação base são as Línguas e Literaturas Modernas. Depois, especializei-me na área do Português e da Análise do Discurso. Sou professora de Língua Portuguesa por vocação e tenho tido a felicidade de já ter trabalhado em contextos e ciclos distintos, nomeadamente no ensino público e no privado; nos ensinos básico, secundário e superior na área da formação de professores.
Em termos profissionais a que se dedica, atualmente?
Atualmente, leciono a disciplina de Português no ensino secundário, no Colégio do Sagrado Coração de Maria, uma atividade tão estimulante como absorvente, pelo que passo grande parte dos meus dias na escola. Por outro lado, embora a minha atividade principal seja o ensino, a escrita tem ocupado também um espaço privilegiado nos meus tempos livres. Comecei por receber o convite de uma conhecida editora escolar para publicar manuais de Português e, mais recentemente, lancei uma coleção juvenil inspirada em temas e personagens da mitologia grega, em coautoria com uma amiga de longa data, a Bárbara Wong, jornalista e editora no PÚBLICO.

Como articulam os temas do interesse dos jovens com a mitologia?
No fundo, o objetivo da coleção juvenil Olimpvs.net, para além de promover a leitura, é o de dar a conhecer deuses, heróis e mitos da Grécia Antiga. Por isso, em cada aventura dos nossos cinco heróis, há um mito em torno do qual a ação se desenrola. Acreditamos que esta é uma forma divertida e empolgante de conhecer temas da mitologia e ir ao encontro dos interesses dos jovens. Os dois primeiros volumes – “No Labirinto do Minotauro” e “O Túmulo Perdido” – foram apresentados, em julho, pelo comissário do Plano Nacional de Leitura, Fernando Pinto do Amaral, e pela diretora do Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria Cristina Pimentel. As primeiras reações dos leitores têm sido excelentes.


E não é difícil escrever para os jovens e adolescentes?
Sem dúvida que é difícil! São leitores muito exigentes! Conscientes disso, e porque achamos que os autores também têm de ajustar aos novos suportes de leitura, procurámos adaptar a coleção aos novos tempos. As aventuras do livro continuam no site Olimpvs.net onde, inserindo um código de acesso que surge em cada volume, os leitores podem aceder ao “dia seguinte” das aventuras. Os jovens podem ainda conversar com os heróis da coleção numa rede a que poderão aceder através do site.

Referiu que era professora por vocação. O que é que a “move”?
Como professora sou um reflexo daquilo que sou como pessoa. E aquilo que me move é talvez o desejo de dar o melhor de mim e trazer ao de cima o melhor dos outros. Há uma frase do escritor Afonso Cruz que, numa imagem, resume esta ideia:
“Uma corda estica até ao seu comprimento, mas pode passar uma vida dobrada sobre si mesma, enrolada para dentro. Uma corda comprida pode não passar de um pequeno rolo. A nossa vida também é assim, como uma corda. Por vezes estende-se sobre o abismo, por vezes está enrolada na arrecadação. Pode unir  dois lugares distantes ou ficar arrumada, dobrada sobre si mesma.”
Pois o que me move é este desejo de não ser uma corda dobrada ou enrolada sobre mim.

O que mais a marcou enquanto professora?
São muitos os momentos que me têm marcado. Poderia falar aqui da experiência do trabalho no ensino recorrente, onde alguns alunos tinham idade para ser meus avós. Poderia falar da espontaneidade dos elogios das crianças mais pequenas. Da empatia com futuros colegas professores e da forma como aderiram a projetos de solidariedade que lhes apresentei.

Como é professora de Português, qual a sua opinião sobre o novo acordo ortográfico?
O acordo ortográfico, numa perspetiva geral, é uma mais-valia para a Língua Portuguesa. O objetivo principal de unificar, aproximar e valorizar a nossa língua é, na minha opinião, indiscutível. E as vantagens podem ser enumeradas a partir de diversas perspetivas: económica, comercial, literária, etc.. Todavia, o acordo apresenta algumas dificuldades. Temos “cor de laranja”, mas podemos ter “cor-de-rosa”. Diz a regra que algumas expressões marcadas pelo uso mantêm o hífen. No entanto, esta regra do “uso”, no dia-a-dia, traz algumas dificuldades. No entanto, creio que não é demais lembrar que não somos os primeiros a viver uma reforma ortográfica. Se, por um lado, a primeira reação é, quase sempre, de alguma estranheza (como acontece em qualquer mudança), por outro lado, não tenho dúvidas de que na próxima geração o acordo estará totalmente interiorizado.

Como tem sido a sua experiência como moradora do Parque das Nações? Tem alguma sugestão que gostasse de fazer?
Morar no Parque das Nações é, sem dúvida, ótimo. Ter o rio ao nosso lado é um privilégio. Enfim, várias áreas de melhoria têm sido apontadas, nomeadamente nesta rubrica. Não quero repeti-las, mas posso sonhar um pouco e dizer que gostaria que existisse uma biblioteca à beira-rio. Este seria, certamente, um local onde gostaria de passar algum do meu tempo livre.