Mulheres do Parque

Actualmente dedicas-te à pintura, mas essa não foi a tua actividade inicial. Fala-me um pouco do teu percurso.
Na verdade, descobri a pintura já bastante tarde. Até essa data (1993) era funcionária bancária, se bem que desde pequena a vocação para trabalhos manuais estivesse  sempre muito presente. Desde os desenhos,  onde sempre me destacava na escola primária, até mais tarde, na pintura de pedras que encontrava nas praias –  onde através delas ia contando algumas histórias que depois oferecia aos meus amigos. A pintura em tela foi uma evidência, após algumas mudanças que foram acontecendo na minha vida. Entre elas, o facto de em 1990 ter ido viver para Madrid, acompanhando o meu marido que tinha sido convidado para trabalhar na capital espanhola. Foi aí que tive o primeiro contacto com a pintura. Senti  necessidade de progredir neste meu “hobby”, que eram os trabalhos manuais, e frequentei escolas relacionadas com o mundo das artes plásticas. Na altura,  Madrid oferecia um leque enorme de Escolas de Artes, lojas e materiais de pintura.

Gostaste mais de viver em Madrid ou aqui no Parque das Nações?
Adorei viver em Madrid. Até porque foi lá que o meu filho nasceu,  por isso, terá sempre um lugar muito especial no meu coração. Sempre achei que Madrid, para ser uma cidade perfeita, só lhe faltava ter o mar por perto.
Ao fim de 10 anos regressei a Lisboa, com muita pena de deixar Madrid e os amigos que lá ficaram. Ainda hoje tenho laços de amizade que perduram e só superei a tristeza de partir,  porque vim viver para o Parque das Nações. Sinto-me uma pessoa privilegiada, por ter a sorte de viver num local tão aprazível e tão bem recuperado como é esta zona. Comento muitas vezes com os amigos e a família:  depois de um dia de trabalho, quando regressamos a casa temos a sensação de estar de férias, pois o local é de tal forma prazenteiro que nos permite desligar completamente do que foi um dia árduo.  

Há algo que gostasses de sugerir aqui para o Parque das Nações?
Gostaria muito que os moradores, comerciantes  e trabalhadores do Parque das Nações fossem o exemplo de cidadania aos olhos de Portugal.  Já temos alguns pontos a nosso favor, se recordarmos como tem sido – juntamente com a Associação de Moradores e Comerciantes – o envolvimento da população em questões tão importantes como a   recolha de assinaturas para a criação da nova freguesia do Parque das Nações. Mas podemos fazer mais. Basta que cada um de nós denuncie, junto das instituições responsáveis, as situações anómalas com que, por vezes, nos deparamos no nosso dia-a-dia.  Sejam elas:  uma pequena ruptura de água, uma tampa de esgoto (inadvertidamente entreaberta),  alguns perigos com que, por vezes, nos deparamos… Não devemos tomar  como adquirido, que alguém irá avisar as instituições responsáveis  do que ocorreu. Sejamos cada um de nós a dar o primeiro passo. Hoje em dia, com as novas tecnologias, a informação chega fácil e rapidamente  às pessoas e instituições. Sempre que tenho denunciado alguma anomalia, a Parque Expo, com rapidez, tem-se prontificado a repor a normalidade.

Em complemento da tua actividade, tenho verificado o teu grande apoio aos teus sogros e aos teus pais, o que na nossa sociedade por vezes é menos comum…
Este apoio de que falas não deveria ser tão raro assim. Afinal, sempre que nos seja possível devemos  retribuir aos nossos progenitores aquilo que por nós fizeram,  muitas vezes com bastantes sacrifícios. Hoje em dia, levamos uma vida de tal forma acelerada que quando nos damos conta também já somos avós. Devemos proporcionar aos nossos idosos e filhos,  momentos do nosso tempo,  dar-lhes atenção, para que eles sintam que são ouvidos e que continuam a ser uma parte importante das nossas vidas e não um fardo. É bom que coloquemos o pé no travão  deste “carro” – que é a vida vertiginosa que levamos de forma que todos possamos  “apreciar a viagem”.
Afinal,  ao apoiar os nossos pais e avós estamos a deixar um legado aos nossos filhos: a forma como  gostaríamos de ser tratados quando chegarmos a essas idades.

O que te parece que cada um possa fazer para apoiar os pais ou avós?  Se cada um fizer um pouco, pode fazer a diferença…
Tendo em conta que, actualmente, numa família  muitas vezes trabalha o casal, nem sempre é possível que os  nossos idosos fiquem em nossas casas (como antigamente muitas famílias o faziam). Por isso, cada vez mais são necessárias estruturas próprias, para acolherem os nossos pais e avós, oferecendo-lhes os cuidados necessários para que não se encontrem, muitas vezes, em situações muito precárias, pondo em risco a sua própria vida. Quer seja através de um sistema de apoio ao domicílio, ou através de residenciais para seniores, este é um assunto que precisa de ser encarado com alguma seriedade e urgência. Cada vez mais a nossa população está mais idosa e muitos dos locais que existem ou são muito caros (e  incomportáveis para as reformas dos idosos e para o orçamento das famílias) ou,  para serem a um preço razoável,  deixam muito a desejar quanto à higiene ou assistência.

E em tua opinião, o que se poderia fazer nesse sentido?
Penso que se podem construir residências sem luxos, mas que ofereçam aos nossos idosos um conforto e bem-estar para que possam viver os últimos anos da sua vida com dignidade. Estas residências devem estar, de certa forma, articuladas com os hospitais de modo a que um idoso ao necessitar de cuidados paliativos tenha um local onde ficar sem estar a ocupar uma cama numa enfermaria semanas e semanas.

E aqui no Parque das Nações, consideras que deviam existir mais?
O Parque das Nações precisaria de ter algumas estruturas destas porque as que existem são poucas e dispendiosas. Apesar de termos muitos casais jovens com crianças a viver aqui,  existe também uma população idosa que decidiu vir viver para esta zona e não esqueçamos que estas crianças têm avós que irão necessitar mais tarde,  de apoios na área de geriatria.

Em tua opinião, o que cada um de nós pode fazer?
Mimar os nossos idosos, assim como fomos mimados por eles quando pequenos. Deixá-los esquecidos nas suas casas ou lares residenciais, por muito agitada que seja a nossa vida só lhes torna os últimos anos penosos. Não custa nada ir visitá-los,  caso não  possam já deslocar-se às nossas casas,  ou proporcionar-lhes um passeio à beira-rio. Nós, aqui, temos um sítio ideal para passear com eles. Levá-los, por vezes, a reviver os sítios da sua juventude  porque é bom relembrar as coisas boas das suas vidas. Enfim, há tanta coisa que lhes podemos disponibilizar, mas o mais importante é oferecermos-lhes tempo para estar com eles e, muito importante, trazermos as nossas crianças também para conviver com eles.