Mobilidade Suave

O que mudou na tua vida depois da entrevista que o Notícias do Parque te fez, em 2011, sobre a tua utilização da bicicleta como forma de mobilidade suave?

Passados mais dois anos de utilização diária, a minha postura evoluiu e foram-se esbatendo mitos e barreiras.

Se na altura escrevia que a bicicleta era apenas para trajectos planos e curtos, com a prática cheguei à conclusão de que o seu raio de alcance é muito maior. E Lisboa é afinal muito mais plana do que a imagem que constantemente nos querem fazer acreditar. Um pouco à semelhança dos antigos descobridores que se faziam ao mar e alguém os atormentava com a ameaça de que a terra era plana e chegando à borda se despenhariam no infinito.

Hoje em dia, praticamente, não uso a scooter e a bicicleta é a minha principal escolha para deslocações a qualquer ponto do centro da cidade.
Entretanto nasceu um segundo filho e passei a utilizar um atrelado para transportar os dois no percurso casa-escola. Não só permitiu-me aumentar a capacidade de carga da bicicleta, como viabilizar a utilização no inverno, com frio ou mesmo chuva, sem pôr em causa a saúde e bem-estar das crianças.

Este ano, também apareceu um novo casal na escola, em que tanto ele como ela transportam os dois filhos de bicicleta, com recurso a um atrelado ou cadeiras. Depois de 3 anos a pedalar sozinho para a escola, em 2012 o número de bicicletas duplicou e o número de crianças transportadas neste modo suave quadruplicou!

Mas não foram só ganhos. Também perdi uns 5 quilos que tinha a mais.
Quanto mais utilizo a bicicleta mais saudável me sinto e mais resistente a constipações, dores de cabeça e afins. Afinal um corpo activo tem o melhor sistema imunológico que algum laboratório farmacêutico poderá alguma vez fabricar.

Mas o mais importante é saber que não estou a emitir gases nocivos para o meio ambiente, para os meus filhos e para os filhos dos outros. Às vezes pergunto-me se as pessoas têm consciência de que as crianças respiram “ar”. E que o tráfego automóvel excessivo e a dependência abusiva deste meio de transporte constitui um problema tão grave e sério, que futuras gerações vão olhar para este período da história e provavelmente descrever-nos como loucos e irresponsáveis.

Não fiquem com a ideia de que sou contra o uso do automóvel. A sua utilização justifica-se em determinados casos e não deixa de ser um excelente meio de transporte. O que me preocupa é o abuso e o excesso. É um pouco como o vinho. Deve ser usado com moderação.