"Memorável"

No seguimento das últimas iniciativas poéticas levadas a cabo no Parque das Nações, a quarta Tertúlia da Marina constituiu um dos momentos mais altos do Festival do Parque das Nações, evento da responsabilidade da incansável AMCPN.

Tivemos como convidados o Prof. Carvalho Rodrigues e o Dr. Luis Roza, sobrinho do poeta Fernando Pessoa. Ambos disseram a sua poesia da forma mais genuína e emocionada. Ouvir um cientista a dizer poemas seus, foi algo que os presentes dificilmente irão esquecer. Temas sobre a Física, a Economia Mundial, o Descalabro do Mundo, o Inferno da Dívida, a Política e dos políticos, o Amor biológico, bordaram na noite o emocionante caminho do prazer e o sabor sublime da poesia. Foram momentos mágicos e de deleite. Foram notas de um bairro que se pretende afirmar pelo convívio entre os seus moradores e amigos.

O Dr. Luis Roza, entre nós pela segunda vez, deliciou a assistência com alguns poemas inéditos. As suas vivências com o tio Fernando Pessoa, foram relatadas de uma forma quase íntima, de grande abertura e generosidade. Ouvir histórias que abordam Cesário Verde, Padre António Vieira, perceber a importância da revista literária Orpheu, o porquê dos heterónimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, a parceria com Mário de Sá Carneiro, o interesse pelo ocultismo e pelo misticismo, com destaque sobretudo para a Maçonaria e a Rosa-Cruz, e por último o trabalho de Aleister Crowley, é beber um chá de cultura com todos os aromas que a compõem.

Da Costa de Caparica veio Victor Reis, um entusiasta das coisas do ancestral e da origem dos sinais da sua terra. Fascina-o a arriba costeira e a sua importância, bem como os impactos nefastos do desenvolvimento imobiliário. Foi um poeta que nos veio dizer coisas sérias de uma forma sem sombras.

Por entre um naco de broa e um néctar da uva, os sorrisos sucederam-se a algumas lágrimas teimaram em cair, num agradecimento pela magia da noite.

Ao sair do Adamastor, já noite dentro, ouvi ao longe o sussurro do Rock in Rio…  Encolhi os ombros, guardei na pasta a Mensagem e alguns poemas rabiscados nessa noite, e lá fui andando a  caminho de casa.  Na Av. D. João II quase deserta, ainda pude espreitar através dos vidros do Hotel Art´s a Exposição da Procissão Fluvial de Nª. Senhora da Atalaia. Lá estava a fotografia do Professor no cais da Marina a caminho da sua Ana Paula. Ao lado a imagem da Virgem noutra canoa do Tejo.

Realmente a vida é feita de pequenos poemas…