Mais Mar

Sim. Mais Mar. Dentro de nós. Mais gana. Mais “ir lá”. Dizemos que descendemos de marinheiros. De homens que se fizeram ao Mar. Para descobrir. Dizemos. Mas dizemos da esplanada. Agora “ir lá”… Quando foi a última vez que tiraste um peixe do Mar? Que construíste um pequeno barco de madeira? Que construíste alguma coisa? E se de repente desligassem o mundo da tomada?

Olho para o mundo digital e virtual de que tanto gostas e onde passas cada vez mais tempo e, apesar de, também, admirar toda a sua grandeza, não posso deixar de me lembrar desse gigante. Desse Mar e daquele pescador. Já velho. Que ainda desce aquelas falésias sagrenses. Contra o vento, contra o Mar, contra o frio. Com uma corda à cintura a saltar de rocha em rocha para apanhar percebes. Lembro-me daquelas noites em que o ouvia a falar sobre história de Portugal. Sobre os nossos antepassados. O que faziam. As suas virtudes. Os seus erros. Os seus ciclos. Sim. Esse mesmo pescador que, para ti, era mais um encostado a uma parede, de Sagres na mão. Foi, por um punhado de anos, professor de história. Mas mesmo que não tivesse sido… O seu conhecimento, a sua experiência,  o seu contacto, a sua coragem. O seu instinto. O conhecer o Mar, a Natureza, o Homem. A sua gana. O ter enfrentado o Mar durante anos. Isso e o seu par de mãos. Tudo o que basta para ele viver. Para Ser. Para meter a comida na mesa. Com ou sem o mundo ligado à tomada. Seja no Mar. Seja em terra. Seja com ou sem peixe. Em Vila do Bispo ou em Nova Iorque. O Mar fê-lo rijo. Deu-lhe coragem. Gana. Foi lá que, ao perceber a sua insignificância, conseguiu descobrir a sua grandeza. A dele. O “eu consigo”. Guerreiro do Mar. Domador da vida.
E foi isso. Lembrei-me que, se calhar, precisamos de mais Mar. Tu. Eu. Os engenheiros. Os advogados. Os políticos. Portugal. O Mundo. Os mais novos. Os mais velhos.

O Mar faz-nos falta. Impede-nos de amolecer. Relembra-nos de que somos feitos. Carne. Osso. Alma. Está constantemente a dizer que existem outros lados. Outras saídas. Outras entradas. Outros sítios. Outros destinos. Outras soluções. Outras ambições. Que existe mais. Que existe sempre mais.

Miguel F. Meneses