Julie Lefebvre

Nasceu em Montreal, no Canadá, mas reside em Portugal desde os 10 anos. O pai, professor Catedrático reformado, era um apaixonado por Portugal, onde passavam habitualmente as férias de Verão. Em busca de uma vida mais calma, a família mudou-se para Portugal. Uma mudança que não foi fácil já que a principal barreira foi, desde o início, a língua e a cultura. Atualmente, a Julie dedica-se de corpo e alma ao trabalho, que divide entre a advocacia e as responsabilidades de quem assumiu a Presidência da SPESI, SA, entidade instituidora da ESAI- Escola Superior de Atividades Imobiliárias – única escola pública ou privada, em Portugal, a ministrar ensino superior na área do imobiliário – celebrou em 2010 o seu 20.º aniversário.

Foi difícil adaptar-se a Portugal?
Quando tinha 10 anos a família preparou-se para mais um verão em Portugal. O verão que iria marcar-nos para sempre. Esta era uma época muito desejada para mim e para os meus irmãos, onde já tínhamos alguns amigos. Mas estas férias pareciam intermináveis…Só depois nos apercebemos e fomo-nos acostumando à ideia de aqui ficar. Logo no primeiro ano, o meu pai optou por dar-nos aulas em casa e que eram complementadas com professores particulares de português. Uma adaptação que não foi fácil, já que, além de ter de lidar com os meus próprios receios, ia-me apercebendo também das dificuldades da adaptação familiar. Eram culturas, hábitos, clima completamente destintos. Somos quatro irmãos e cada um teve uma reação diferente. Lembro–me de ver a minha irmã mais nova,  agarrada à minha mãe, a pedir para ir para casa (Canadá). Passado um ano, ainda se recusava a ir para o Colégio.

Qual foi a influência que teve sobre si?
Apesar de não ter sido fácil, ajudou-me a crescer e a aprender a ser responsável, mais cedo, do  que outras crianças da mesma idade.

Quais as diferenças que vê entre a vida em Portugal e no Canadá?
Muitas. São realidades não comparáveis. A crise que se vive em Portugal, e que particularmente considero ser uma crise de valores, veio demonstrar ainda mais. No Canadá, primeiro que tudo, existe organização, planeamento e previsão. Se existe um problema, debate-se a solução e não se focam na vitimização ou em constantes debates estéreis. O país é gerido como uma empresa, os Custos não podem ser superiores às Receitas. Premeia-se a excelência, a inovação. E isso transpõe-se para o cidadão. Cada qual  preocupa-se com a sua vida e não tem tempo a perder para discutir a vida dos outros. Este espírito é incutido desde muito cedo, nas próprias escolas.

Quer dar-nos um exemplo…
Vejamos o que sucedeu com a recente campanha do Pingo Doce, no dia 1 de Maio. Passaram uma semana a discutir se esta campanha era lícita, se existiu dumping, etc… Ora, não é de louvar um empresário, que permite que os portugueses consigam comprar, nos tempos que correm, a preços bastante atrativos? Não é de louvar uma empresa que crie postos de trabalho, que consiga pagar aos seus trabalhadores atempadamente e que paga os seus impostos? Preferem perder tempo a discutir sobre um empresário que gera riqueza em Portugal, do que encontrar solução viável para os problemas existentes e que são realmente graves!
E estamos assim em Portugal …. Em vez disso, deveríamos tomar o exemplo do Soares dos Santos, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Jerónimo Martins, que numa recente entrevista na TV, e, após o entrevistador lhe perguntar se tinha orgulho em ser um dos homens mais ricos, respondeu “Sim, claro que é bom, mas não é isso o essencial, a minha família comprometeu-se com a criação de valor “.
Deveríamos todos meditar sobre este assunto e seguir o exemplo.

Mas gosta de viver em Portugal?…
Claro que sim. Vivo em Portugal por opção, foi o pais que escolhi em idade adulta para viver. Mas, como tudo o que amamos queremos o melhor. Daí o meu espírito crítico, e saber que Portugal poderia estar em condições muito melhores se tivesse sido conduzido de outra forma. O que eu queria é que Portugal se aproximasse de “algo melhor”. Tem todas as condições para seguir em frente, sendo bem gerido: os Custos não devem ser superiores as Receitas!

Porque escolheu o Parque das Nações para viver?
Porque gosto muito do projeto urbano e porque tem qualidade de vida.
Como diria o meu Caro Amigo Pedro Neves, Docente na ESAI e especialista em Reabilitação, Requalificação e Regeneração de Cidades: “Vivemos hoje uma competição entre cidades que procuram soluções para oferecer garantias de sustentabilidade – oferecer um futuro melhor à população, ao ambiente, e aos investidores. “
O Parque das Nações é um bom projeto a esse nível?
Repare, hoje em dia, não procuramos apenas um sítio para viver, mas um Ambiente Urbano de Qualidade que inclui:  
– Espaço e serviços públicos de qualidade (no Comércio, Serviços, Habitação, Lazer).
– Espaços de proximidade com mobilidade (na Educação, Saúde, Segurança, Lazer).
– Espaços para crescer e viver (serviços, indústria, logística…).
O Parque das Nações foi um projeto muito bem pensado e alcançado. Conseguiu associar todo este tipo de privilégios garantindo um ambiente urbano de excelência.
Só posso acrescentar que tenho o privilégio de poder viver num sítio de que gosto, que nos permite ter qualidade de vida e proporcioná-la à nossa filha.

Atualmente é presidente do conselho de administração da ESAI. Como se sente com essa função? Chegar a esse cargo não deve ter sido fácil…
Como me sinto? Nunca pensei nisso, nem isso é o importante. A mim, preocupa-me “fazer” e não “ser”. As minhas preocupações centram-se todos os dias em manter, fazer crescer, criar valor e proporcionar uma vivência de valores. Estes valores – morais, éticos, de bom relacionamento entre os outros, de competência, de trabalho –  é o que eu procuro na minha equipa e o que considero que cada um deve adotar para podermos ajudar Portugal.
Chegar a esta função foi fruto de muito trabalho e de aplicar os valores em que acredito.

Por fim, o que considera que faz falta aqui no Parque das Nações? E a nível de serviços?
Resido na zona norte e considero que estamos bem servidos. O que tenho necessidade consigo obter no nosso bairro.