Faces – Pessoas do Parque

O lugar favorito
A minha casa e todo o caminho à beira rio que atravessa o Parque.

O que desenhava
Uma empresa de reboques. Mais estações de Metro. Mais estacionamento. Mais actividades lúdicas. Mais espaço público e menos betão.

O que apagava
As enchentes de carros de fim-de-semana. A maioria dos prédios em construção. E uma ou outra “aberração” arquitectónica já construída.

Auto-retrato
Sou uma jovem quase nos 30. No BI diz que sou portuguesa e casada. Curiosamente refere o nome dos meus pais (Edite e Victor), mas não o do meu marido (Miguel) nem o do meu filho (Francisco). Não diz sequer que ele existe e que sou a recém-mamã mais babada deste mundo. Imperdoável!
Ser mãe mudou muita coisa em mim e, consequentemente, na minha vida. A cicatriz da cesariana é apenas a marca exterior do acontecimento em si, como se fosse mais uma linha da mão onde nos lêem o destino. Mas a principal marca está dentro de mim, indelével e que só eu posso ler. Ela está dentro de mim, nos sentimentos e nos pensamentos. No compreender a força da relação mãe/filho. No não pensar duas vezes para dar a vida por alguém. No amor incondicional. É uma experiência nova, formidável e indescritível, renovada diariamente.
Sou muito possessiva em relação àquela meia dúzia de pessoas que me estão mais próximas. Sou de exteriorizar pouco os meus sentimentos, sejam de alegria sejam de tristeza. E mesmo os meus pensamentos mais profundos ficam reservados por um punhado de eleitos do meu afecto e da minha admiração. Odeio conflitos, brigas e desavenças. Não sei se o meu signo balança com ascendente escorpião pode explicar este meu jeito de ser e de estar.
Dizem que não sou fácil de aturar, porque confundem determinação com teimosia. Que sou temperamental, porque, às vezes, fervo em pouca água, mas passa rápido. Não guardo ressentimentos. Sou amiga do meu amigo. Sou generosa, mas funciono muito de acordo com o dar e receber, seja no amor ou na amizade seja nos bens materiais, nos presentes ou nas surpresas… Também sou muito impaciente, sobretudo se tiver de esperar por algo ou alguém.
Profissionalmente, sou, como costumo dizer, bancária por acaso! Isto porque o trabalho que faço poderia estar a fazê-lo em qualquer outra empresa ou organismo público, uma vez que sou licenciada em Marketing e Publicidade. Dizem os meus colegas que sou criativa, frontal, divertida e que estabeleço boas relações com quem trabalho e, como se costuma dizer, gosto de “quebrar o gelo”. Por outro lado, gosto de autonomia para decidir, luto pelas minhas ideias, sou ambiciosa, sou muito trabalhadora, sou muito exigente e, quando as coisas não correspondem às expectativas, lá vem de novo o mau feitio!
Gosto muito de viajar… Comecei a viajar ainda criança e já fui aos 5 continentes. Sou uma privilegiada! Adoro toda a preparação das viagens que é em si uma antecipação do prazer da própria viagem. Por outro lado, uma viagem bem preparada rende mais. Não há perdas de tempo inúteis com definições de horários e roteiros. Normalmente levo de casa o trabalho feito e quando chego ao destino… é só fruir!
Até o Francisco, aos 6 meses, fez a sua primeira viagem de avião! Vou de certeza pegar-lhe o “bichinho” das viagens!
Finalmente, vim viver para o Parque das Nações porque, no fundo, foi um voltar às origens, uma vez que vivi e cresci nesta zona da cidade com vista para o Rio Tejo, na Portela de Sacavém. Agora sinto-me mais em casa…

Hoje vejo-me assim, mas o meu espelho está sempre a mudar…

Uma história para contar
A história que vou contar não é, na verdade, aquela que gostaria de contar, mas é aquela que devo contar, tendo em conta o meio onde será divulgada, e porque, provavelmente, é a história recorrente de bastantes residentes do Parque…
Tudo começou quando me mudei para o Parque das Nações há cerca de 3 meses correspondentes a 12 fins-de-semana (à data que escrevo estas linhas) e, em tão pouco tempo, já fiquei inibida de entrar e/ou sair da garagem do meu prédio 8 vezes!!! É inacreditável, mas é um facto.
Por oito vezes não pude entrar ou, o que ainda é pior, sair. Fui gravemente limitada na minha liberdade e tive, muitas das vezes, de sujeitar o meu filho com menos de 1 ano a ficar preso no carro, enquanto aguardava a polícia, ou a estacionar na rua e a ter de o levar de noite e ao frio, porque há pessoas que não cumprem a lei.
Como é possível que estas pessoas – que não têm civismo, nem educação, nem respeito algum pelo próximo, que apenas pensam no seu bem-estar e se julgam mais espertos que os outros – não sejam penalizadas?! Uma multa de estacionamento?! E os meus direitos violados não exigem outra atenção?
Uma vez que estas situações ocorrem durante o fim-de-semana, o meu destino, tanto quanto já fui informada pela própria polícia do Parque, com a qual já vou ficando familiarizada, é ter de aguardar cerca de 3 a 4 horas pelo reboque uma vez que, incrível e ridiculamente, existe apenas 1 reboque para Lisboa inteira ao fim-de-semana!
Ou seja, se vou sair… não saio ou arranjo um meio alternativo o que com um bebé é mais complicado. E se tiver de ir com o meu filho ao hospital ou ao médico?
Se estou a chegar… estaciono na rua como se não tivesse garagem. E se vier do supermercado cheia de sacos de compras, tenho de aguentar eu as consequências do ilícito cometido por outros. Quanto ao infractor, leva uma multa de estacionamento e, como beneficia do facto de vivermos num país de “terceiro mundo”, quando volta ainda tem o seu carro no mesmo sítio sem qualquer tipo de incómodo!
Moral da história: Que me lixe eu, o meu filho, o meu marido, os residentes do Parque das Nações, a nossa liberdade, os nossos compromissos, a nossa vida, a nossa saúde, enfim… o importante é ficar 5 metros mais próximo dos bares, da FIL, da Praça Sonny ou de qualquer outro destino!

Como é que construiria uma cidade
Penso que as novas cidades deveriam ser bem planeadas antes de começarem a ser construídas e depois não se deviam permitir mais alterações estruturais. O ordenamento do território, a gestão urbanística, a qualidade dos projectos e a valorização ambiental são vertentes importantes da construção da cidade.
Os prédios deveriam ser implantados em zonas com amplas zonas verdes e espaços públicos bem cuidados, parques de estacionamento, áreas comerciais e de serviços. Por outro lado, a cidade deveria ter bons acessos e boas vias de escoamento, um sistema eficiente de transportes públicos, bons equipamentos escolares, desportivos, culturais e sociais (jardins infantis, escolas, centros de saúde, lares de idosos). Para além disso, passeios largos e acessos para pessoas com deficiências motoras.
Mas, a construção de uma cidade não se faz apenas de prédios e infraestruturas, faz-se de pessoas e estas, a meu ver, também têm de evoluir, adquirir melhores hábitos e serem mais educadas…