Faces – Pessoas do Parque

Fernando Ribeiro, 44 anos e, desde Agosto de 2002, que habito no Parque das Nações.

As grandes cheias de Lisboa de Novembro de 1967, quando me apressava para completar um ano de idade, terão eventualmente marcado a minha vida de ligação à água, não me imaginando a viver numa cidade do interior de qualquer país. A infância e a adolescência vivida no coração de Lisboa permite-me escrever com algum conhecimento de causa sobre as diferenças colossais de então para hoje.

Para os mais novos ou para aqueles que não cresceram nesta cidade convém lembrar que a Oriente e junto ao rio,  Lisboa quase que acabava onde hoje começa. Para lá da rotunda Sul da Expo era o “deserto”(não sei mesmo se o francesismo jamais não foi utilizado contra os pioneiros da ideia de fazer a exposição mundial de 1998 neste local, e, depois, uma “nova” cidade. Se várias vezes somos apontados pela forma como não aprendemos com os erros dos outros, arrisco-me a dizer que, de uma forma geral, o Parque das Nações é a excepção que confirma a regra.

Aqui juntámos o útil ao agradável, temos excelentes zonas de espaços verdes(Zona Norte), bem como uma ligação harmoniosa com o rio Tejo(Zona Sul). No entanto, ainda não foi desta que o agradável se juntou ao útil, a quase inexistência de espaços verdes na zona sul(temos o jardim do Cabeço das Rolas, obrigado Arq. Ribeiro Telles), junta-se ao quase degradante passeio de ligação entre a Ponte Vasco da Gama e o rio Trancão(urge o melhoramento desta zona de estacas perigosas para os transeuntes).

Em 1988, a minha vida mudou radicalmente quando tive a felicidade de ir viver durante quase 6 anos, para uma das que é recorrentemente considerada entre as melhores cidades do mundo: Melbourne, Austrália. Imaginemos um Parque das Nações onde a esmagadora maioria dos prédios não tinha mais de 2 andares(ok, excluímos deste pensamento o eixo central da Av. D. João II), agora coloquemos praia desde a Marina até à Ponte Vasco da Gama e rematemos com relva e árvores  onde a areia acabasse e as esplanadas dos restaurantes começassem; tudo isto é qualidade de vida, tudo isto existe, tudo isto é Melbourne.

O Parque das Nações não é local perfeito e cada um defenderá o seu bairro, mas tendo vivido em várias zonas de Lisboa e conhecendo a cidade como conheço, poucos serão aqueles que me acusarão de não dizer a verdade quando afirmo que o ´nosso´ Parque é o melhor local para se viver, trabalhar, conviver e até mesmo para simplesmente nada fazer dentro da cidade.
Lugar favorito

A Marina(Finalmente, ufff!) e a zona junto ao rio entre a Torre Vasco da Gama e a ponte com o mesmo nome.

O que se desenhava

Existem coisas que já não são passíveis de mudança e mencioná-las será apenas um exercício utópico, mas a existência de mais espaços verdes na zona Sul poderia trazer-nos da ficção à realidade. Dentro das que ainda são exequíveis seria excelente ter uma verdadeira ciclovia que junto ao Tejo atravessasse o Parque de uma ponta à outra.

O que apagava

Para quê a abertura ao trânsito automóvel da Alameda dos Oceanos, desde o Pavilhão do Conhecimento até à Feira Internacional de Lisboa? Não facilita em nada o tráfego na Dom João II, tem um piso execrável e estando fechada alargaria o espaço de passeio/recreio para aqueles que querem realmente desfrutar do Parque, quer os residentes quer os milhares que nos visitam ao fim-de-semana. Que tal aproveitar apenas o lado mais distante do rio para tráfego automóvel com ambos os sentidos????