Faces – Pessoas do Parque

Faz 1 mês que sou Pai… o êxtase do momento tem-me deixado completamente embriagado! Apenas tenho olhos para a minha filha e para a afectuosidade da mãe! Poderá parecer que qualquer semelhança com a realidade é pura ficção, só que ao invés da morte a vida gera vida … e mesmo sem nunca ter aprendido a cuidar de um ser tão indefeso, esta capacidade de regeneração que a vida tem é per si suficiente para nos ensinar a estar nesta nova vida e tal como uma imagem fotográfica vale por mil palavras, também um bebé vale por 1000 palavras… por 1000 sentimentos… por 1000 emoções! E tudo o que posso dizer a futuros Pais, não são as horas de sono, as infinitas “borradas” ou os incontroláveis choros, mas apenas e tanto as longas espreguiçadelas… as intermináveis “mamadas”… os inesperados sorrisos!
Vivo no Parque desde 99 e desde cedo me apaixonei por este local, pela zona, pela arquitectura, pela comunidade que foi crescendo. Os fins de tarde durante a semana, a luz da manhã que se propaga do rio, a inúmera natureza que por aqui prolifera são para mim, amante da fotografia, alguns dos ex-líbris naturais desta zona ribeirinha! Sentindo o Parque como uma aldeia pequena que quer crescer, faltam ainda muitos pontos para que este “bairro” possa adquirir características de aldeia, a começar pela integração da comunidade em actividades comuns e que a possam ligar, de forma a que haja uma empatia geral e contagiosa! Para isso tanto a AMCPN (Associação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações), como a CVL (Cruz Vermelha de Loures), das quais faço parte dos órgãos directivos, foram para mim esse elo de ligação à comunidade, pois ambas as Organizações têm alavancado, a meu ver, esta integração de grande parte da Comunidade, sendo o nosso objectivo a totalidade dessa mesma Comunidade. Para além disso, e da minha actividade profissional, sou fotógrafo e tenho de momento uma Exposição de Fotografia em Podence, sobre os Caretos locais, que em breve estará num local, a designar, do Parque e para a qual convido, desde já, todos os amantes de fotografia e das tradições populares a passarem por lá…

Um dia entrei numa estória que quero partilhar… quando há uns anos fiz o Caminho de Santiago e, talvez por me verem a caminhar sozinho, todas as pessoas a quem perguntava se ainda faltava muito para determinado local me respondiam que sim, que ainda era muito longe e instintivamente dava por mim a responder que não havia problema… que tinha tempo! No último dia, comecei o caminho com uma amiga Alemã e, depois de nos separarmos, a meio encontrámo-nos de novo à entrada de Santiago e sem orientação e com receio de estarmos já atrasados para a missa do Peregrino, que todos os dias ocorre como forma de saudar e acolher os caminheiros que chegam, perguntámos as horas e, para nosso espanto, faltavam ainda 15min para o início, pelo que mais uma vez referi… “ainda temos tempo!” e realmente assim é… passamos uma vida a queixarmo-nos do tempo e afinal AINDA TEMOS TEMPO! Não importa a idade que tenhamos… os Projectos que pintamos… os sonhos que ainda não realizamos! Para que tudo isso aconteça, não é o tempo, ou a falta dele que os impede de concretizar, apenas e só a falta de querer… a descrença em nós, motivada, por vezes, pela falta de conhecimentos e competências que não nos permitem dar o passo seguinte… avançar para o próximo sonho e assim, ficamos parados no mesmo local… com o tempo a cair-nos em cima sem parar, ao invés de caminharmos com ele!

Sendo Transmontano, faz-me confusão ver cidades sem espaços verdes para as pessoas estarem… ruas sem árvores para os pássaros pousarem… zonas para as crianças brincarem! Cresci com a maior parte das cidades Portuguesas, por onde passava, a terem jardins “para Inglês ver” sem perceber o que significava isso e, um dia, na minha primeira ida a Inglaterra deparei-me com esses Ingleses que, para além de verem os seus próprios jardins também os pisavam… se deitavam e rebolavam neles e então percebi a que ponto nos tínhamos tornado superficiais… humildes… acima de tudo sub-obedientes! Sendo de Engenharia a minha formação Universitária, e não sabendo se está ou não relacionado, o facto é que sempre fui muito pragmático e com a noção do prático e útil… por isso é que para mim um jardim tem que ser parecido com um ‘lameiro’ e todos aqueles que já tiveram o prazer de saborear esse momento de liberdade, nas tardes bucólicas da primavera, saberão ao que me refiro…

Havia um jardim na zona Sul, perto da marina e de tal forma escondido que quase nunca lá encontrava ninguém, que tinha uns chorões majestosos, com uma larga ramagem e cujas sombras eram um regalo para os dias quentes de verão… Digo havia porque, um dia, quando dava a minha volta por ali e, apesar de o jardim ainda lá estar, esses chorões, não sei se por monotonia, ou inércia do lugar…, esses chorões… já lá não moravam! Sempre achei que talvez fosse um jardim pequeno demais para eles e que árvores tão imponentes merecessem um maior protagonismo… um público Maio! Em parte fico feliz por elas também o terem pensado… apesar de e mesmo tendo partido sem avisar, esse jardim continuar a ser o meu  lugar favorito no Parque…

Sempre me fez confusão o civismo ou a falta dele! Apesar de gostar de pessoas simples a educação cívica é algo que deve ser independente de tudo isso e qualquer sociedade se deve orgulhar de a ter! Para isso e para que tal suceda, é necessário ministrá-la aos seus concidadãos.. e assim mostrar para e por onde queremos ir, o que nos motiva, o que nos rege! Mediante isso, presumo que uma Sociedade que constantemente fecha os olhos a todos os atropelos das suas leis e não se preocupa nem em educar e assim prevenir nem depois em fazer cumprir essas leis, é uma Sociedade que não se está a fazer muito bem a ela própria… que carece de auto-estima… de vontade e querer! É uma Sociedade que se move sem destino, que tanto poderá ir por este como por aquele caminho ao sabor do melhor vento, que não tem um plano para si própria! Por isso mais do que desenhar algo no Parque, o que faria era planear e, depois, em vez de apagar o que quer que seja, fazia cumprir esse planeamento e evitaria que em vez de escolas surgissem prédios… em vez de jardins surgissem prédios… em vez de carros nos passeios andassem pessoas e em vez de políticos… governantes… condutores… polícias… pessoas com vendas nos olhos, surgisse uma Sociedade de olhos bem abertos.