De Olho nas Aves

Datas das próximas actividades de observação de aves (e respectivo horário) dinamizadas pela SPEA no Parque Tejo:

23 Janeiro (10h-13h) / 20 Fevereiro (9h-13h) / 20 Março (9h-12h) / 17 Abril (9h-13h) / 15 Maio (9h-12h) /19 Junho (11h-14h)

A proximidade ao estuário do Tejo permite que os moradores do Parque das Nações usufruam de um contacto com a natureza pouco comum para quem vive numa grande cidade. A prová-lo está a actividade que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) tem vindo a promover na zona ribeirinha junto ao skate park. Uma vez por mês, a SPEA organiza uma sessão de observação de aves denominada “De Olho nas Aves”, juntando especialistas, sócios e simples curiosos. “Queremos que apareçam as pessoas que têm contacto com a actividade, mas também chegar a um público que não conhece a SPEA e que não costuma observar aves”, afirma Joana Andrade, assistente do Programa Marinho da SPEA e a nossa interlocutora sobre as actividades desta organização. “Queremos mostrar uma forma de lazer diferente a quem já costuma usufruir das qualidades desta zona”, reforçou. Assim, contrariamente à maioria das iniciativas promovidas pela SPEA, esta não é uma acção dirigida exclusivamente aos sócios e nem sequer requer inscrições. Basta aparecer, pegar nos binóculos e começar a observar.
Munida de material óptico diversificado, como binóculos e telescópios, a SPEA realiza esta actividade no Parque das Nações há cerca de um ano e meio. Geralmente as sessões decorrem entre Setembro e Maio, já que durante o Verão a diversidade de espécies observáveis é consideravelmente inferior.

O Tejo e as Aves

“O estuário do Tejo é a zona húmida mais importante de Portugal e uma das mais importantes da Europa. Trata-se de um ponto estratégico na rota de migração das aves que se deslocam dos territórios de nidificação a Norte e que vêm passar o Inverno a Sul. É uma área que assume particular relevância no Inverno, onde a diversidade de espécies e a abundância de aves aumenta consideravelmente”, explicou Joana Andrade, revelando ainda que, durante esta época do ano, o Tejo chega mesmo a albergar 300 mil aves.
“Para além de ponto de passagem, o estuário do Tejo é também uma área de invernação importante. As espécies invernantes costumam aparecer no Verão assim como as que se vêm cá reproduzir. Tratam-se geralmente de espécies mais terrestres, que não conseguimos observar a partir desta zona”, completa a colaboradora da SPEA.
As aves aquáticas constituem, assim, o principal alvo das observações da SPEA no Parque das Nações. O alfaiate é, por assim dizer, o ex-libris do estuário do Tejo, não sendo por acaso que figura no logotipo desta Reserva Natural. Com uma plumagem preta e branca e um bico com uma curvatura ascendente, que lhe permite procurar alimento nas zonas de lama, o alfaiate é facilmente identificável e uma ave muitíssimo comum no estuário do Tejo.
Outras espécies que se podem observar a partir desta área são o guincho, as garças brancas e cinzentas, os corvos marinhos, os colhereiros e várias espécies de pilritos e tarambolas. De acordo com Joana Andrade, até flamingos se podem avistar: “Geralmente ficam longe da zona onde fazemos as observações, mas por vezes, quando se aproximam um pouco mais, é possível observá-los através de telescópios, em particular durante o Inverno. No Verão alguns permanecem no estuário do Tejo, mas já são mais difíceis de avistar.”
A zona do estuário do Tejo apresenta-se como um dos locais privilegiados para fazer observação de aves, mas a SPEA tem vindo a promover actividades deste género um pouco por todo o país. “Podemos observar aves aquáticas a Sul, em locais como a lagoa de Albufeira, a lagoa de Santo André, a lagoa dos Salgados ou a zona da ria Formosa. Também costumamos organizar este tipo de actividades no Porto, concretamente nos jardins de onde é possível observar o rio, o que nos permite observar tanto as aves terrestres como as estuarinas”, conta Joana Andrade que reconhece, mesmo assim, que as aves aquáticas são as que mais facilmente se observam: “Geralmente encontram-se em áreas abertas e, mesmo se estiverem longe, podemos utilizar telescópios para as observar. Também fazemos algumas actividades em zonas florestais ou em jardins, nomeadamente na zona de Oeiras, mas não se avistam aves com a mesma facilidade, já que se encontram mais escondidas. Quando isso acontece, aproveitamos para explorar outras características das espécies, como os cantos que vamos ouvindo.”

O Trabalho da SPEA

A SPEA é uma organização ambiental não-governamental sem fins lucrativos. Existe desde 1993 e dedica-se ao estudo e conservação das aves selvagens e dos seus habitats. Formada inicialmente por um grupo de ornitólogos profissionais e amadores, a SPEA começou por ser uma associação de cariz científico, tendo vindo nos últimos anos a alargar um pouco mais o seu âmbito, como nos explica Joana Andrade: “Os nossos projectos estão sobretudo ligados à conservação de aves selvagens mas, porque os sócios são uma parte importante da SPEA e porque queremos que o seu número vá aumentando, temos também promovido muitas actividades direccionadas a eles e mais viradas para a divulgação da cultura de cada espécie”.

Neste sentido, a SPEA tem desenvolvido vários programas de monitorização de aves, casos do Censo de Aves Comuns, do Censo de Aves de Natal e Ano Novo, do Censo de Aves Marinhas e da Rede de Vigilantes de IBA (Important Bird Areas). A maioria destes programas funciona com base no trabalho de observadores que disponibilizam o seu tempo, o seu conhecimento e a sua experiência para colaborar com a SPEA.
Se quiser contribuir para a conservação das aves em Portugal, pode tornar-se sócio da SPEA e usufruir do vasto programa de actividades dirigido aos associados, assim como de diversos descontos em artigos da SPEA e não só: “Temos protocolos com empresas turísticas e de venda de material óptico, em que os sócios podem beneficiar de descontos. Há ainda uma publicação que a SPEA produz de quatro em quatro meses, a “Pardela”, que os sócios recebem gratuitamente. Tendo em conta que a quota anual é de 22 euros, acho que a adesão compensa a todos os níveis, até porque contribui para o trabalho e crescimento da SPEA”, afirma Joana Andrade.

Uma Actividade em Crescimento

A assistente do Programa Marinho da SPEA não tem dúvidas: os últimos anos têm visto um aumento do interesse pelo estudo e observação das aves. “Há cada vez mais gente a colaborar em projectos de monitorização que, geralmente, até requerem algum compromisso em termos de continuidade, já que implicam dados de vários anos para se poder avaliar os resultados”, acrescenta.
As actividades de observação que têm decorrido no Parque das Nações são, de acordo com Joana Andrade, uma iniciativa a manter, até porque a tendência é a de que haja cada vez mais adesão: “Passam por aqui muitas pessoas que andam por esta zona há muito tempo e que nunca viram nada a não ser gaivotas. Quando tomam um pouco de atenção, começam a ver espécies diferentes e, como vamos mantendo uma regularidade mensal, muitas destas pessoas voltam a aparecer nas actividades seguintes. Isto apesar de até se verem praticamente as mesmas espécies.”