A Vizinhança

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“Mais vale um vizinho à mão que ao longe nosso irmão.”
(Provérbio Popular)

Segundo a definição do dicionário consultado, vizinhança é o conjunto de pessoas que moram perto. A palavra “vizinho” vem do latim vicinu, que significa “próximo, que mora perto, vicinal, da aldeia”. E, segundo diz o povo, os bons vizinhos fazem parte da família. Ora, nem mais. Há mesmo o Dia do Vizinho que se comemora a 23 de Dezembro, mas que por cá, nos passa ainda totalmente despercebido. A mim não. Gosto de sair de casa e de me cruzar com a vizinhança. Gosto de ouvir o som do piano, tocado a meio das tardes, no andar de baixo. Gosto que o som de uma bateria em fúria entre pela minha janela aos domingos à tarde. Gosto de ir pedir coentros à vizinha do lado. Gosto de observar a vida da minha janela. O vizinho que vai passear os cães, a senhora que procura o seu gato que sai de casa todas as noites para uma passeata, o casal que passeia o filho ainda bebé, as crianças que vimos nascer e já cresceram… ou a vizinha de cima, já quase  irmã, que nos oferece flores quando nos sente a escurecer…
A boa vizinhança faz-nos falta e recomenda-se. Esquecemo-nos mesmo da sua grande importância no que a questões de segurança diz respeito. Nos sítios pequenos, este papel desempenhado pelos vizinhos é fulcral. Nas grandes cidades, tem-se perdido. Mas já os nossos antepassados tinham a clara noção do papel preponderante de uma boa vizinhança quando diziam «mais vale um mau ano que um mau vizinho»! E uma avaliação das relações de vizinhança pode ser um importante indicador da qualidade de vida no nosso bairro. E deixem-me que vos diga: no nosso, a qualidade das relações de vizinhança passa no exame com mérito.
Gosto de me cruzar com os vizinhos. De cumprimentar e ser cumprimentada. Desta familiaridade própria dos sítios pequenos. De chegar ao café mais próximo e ser recebida com bons dias e boas tardes e como está e como tem passado…. Ou melhor ainda, ser recebida com a pergunta: Então a vizinha este mês vai escrever sobre o quê no Jornal Notícias do Parque?
Os vizinhos são assim uma extensão da nossa vida, das nossas relações, dos nossos afetos… E há vizinhos de muitas nacionalidades diferentes. O Parque das Nações tem cada vez mais estrangeiros a habitá-lo, o que faz todo o sentido. Por isto mesmo, é cada vez mais frequente encontrar pessoas de outros países no supermercado, no café, nas ruas… Este cosmopolitismo, que aqui se vive, transporta-me para outras coordenadas e, talvez por isso, tenha dado por mim, há dias, a constatar que vivo rodeada de estrangeiros. Comecei pelo meu prédio onde, no piso inferior habita uma simpática família com 3 filhos que falam alemão… No primeiro andar, uma senhora sul-americana com duas crianças… No terceiro piso, um casal de asiáticos… No prédio ao lado, os espanhóis… Perto, perto, uns ingleses… No meu próprio piso, outra estrangeira… oriunda do Alentejo profundo (que sou eu).

É assim, a vida no parque!

Carmo Miranda Machado
(Escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico)