10 Anos

Além do Papel

Os americanos que têm uma história  curta não se cansam de a proteger, de a exibir, de a projectar nos seus filmes, mais do que ninguém. É uma das razões da força do seu patriotismo. Nós, com uma história épica, pouco fazemos para a imprimir, para a proteger, para a projectar no cinema, nas ruas, nas nossas casas. Não só devemos conhecer a nossa história por uma questão de patriotismo, como é importante conhecê-la, para perceber o presente, para prever o futuro. Seja a história do nosso país, da nossa cidade, do nosso bairro. Perceber de que somos feitos.

Foi um privilégio imprimir tinta sobre algo que tinha acabado de nascer.  Algo especial como a cidade que nascia entre dois séculos. Decalcar, ano após ano, o crescimento de um novo bairro. Onde tantos depositavam tamanhas expectativas.

A Parque Expo deixou um espólio gigante de livros e documentação. Um impressionante legado de toda a história da Expo`98 e do nascimento do Parque das Nações. Com o fim da última exposição do século, o Notícias do Parque assumiu, então, a missão de documentar o PN que tinha acabado de nascer. Mas além do papel, está a missão de unir a comunidade. De ajudar a desenhar uma identidade. Para que quem a escolheu habitar se sinta mais em casa. Mais dona do seu bairro. Por isso: “um jornal escrito pelos leitores”. Para que sinta este papel seu.  Por isso o nosso cuidado em dar voz aos principais pilares da comunidade, como a Associação de Moradores e Comerciantes; Parque Expo; Associação Náutica; Igreja; Polícia; comércio; etc.. Mas, também, ao morador comum. Que tem ideias, sugestões ou, simplesmente, vontade de se apresentar à comunidade. Quanto melhor for o conhecimento da nossa história e de todos aqueles que a habitam, mais coeso será o PN. Mais preparado estará para o futuro. Mais saudável será o seu crescimento.  A união, partilha de informação e de conhecimento são cada vez mais fundamentais face à imprevisibilidade do tempo, da história. Quanto maior for o conhecimento, a partilha, a memória, mais fortes seremos, mais preparados estaremos.

Vivemos em tempos de memória curta. Os ciclos são cada vez mais rápidos. A quantidade de informação, de imagens, de “coisas” rebentam a todos os minutos, reciclando, ocupando sucessivamente espaço. A história vai perdendo terreno. Imaginem um mundo sem história. Uma família sem álbuns. Uma pessoa sem memória. Um presente sem passado. Somos feitos de movimentos. Que se ligam, crescem, envelhecem. Mas que deixam sempre rastos, algures, lá. Tal como fica um pouco dos nossos pais, avós, dentro de nós. Que nos faz ser o que somos.

O www.noticiasdoparque.com vai possibilitar, em breve, na sua homepage, o acesso às edições publicadas há dez anos atrás. É com orgulho e honra que olhamos 10 anos para trás, para esse rasto que vai desenhando aquilo que é o nosso bairro, aquilo que somos, que vamos sendo. Como vamos crescendo.  Num mundo cujo sopro forte apaga tão rapidamente parte do seu rasto. Pelo menos, aqui, vai ficando tinta. Algo que nos vai fazendo lembrar. Lembrar aquelas pessoas que escolheram voltar à margem do rio para erguer uma nova cidade. Começar uma nova história. Património esse que vamos guardando aqui.

Miguel F. Meneses