“Web Summit” ou “Future Summit”?

Por: Inês Freire de Andrade

Pelo segundo ano consecutivo, a Web Summit esteve no Parque das Nações. Eu, tal como muitas outras pessoas vindas de todo o mundo, aproveitei a oportunidade de conhecer o que há de mais inovador pelo mundo fora.
Para aqueles que leram as centenas de artigos publicados acerca deste evento, já deverão saber que o tópico mais presente foi a Inteligência Artificial (IA), fortemente representada pela estranha “Sophia”, o robô que até já tem cidadania! Todos os grandes oradores falaram sobre os potencias benefícios, mas também dos perigos da IA. Quer queiramos quer não, a IA veio para ficar, e, mais tarde ou mais cedo, estará presente em tudo o que fazemos. Na minha perspetiva, em vez de nos recusarmos a integrá-la, o melhor que temos a fazer é aproveitar as extraordinárias aplicações desta tecnologia a favor do bem da Humanidade, ao mesmo tempo que impedimos que a usem para a destruição daquilo que mais prezamos.
No entanto, a Web Summit foi muito mais do que isto, e o meu foco durante a semana foi completamente diferente. Foram dois os temas que mais me cativaram: o futuro do Planeta Terra, e o futuro da Educação. A verdade é que, em ambos os temas, há um grande “atraso” a nível mundial, quando comparamos o que é atualmente feito e o que é preciso alcançar em breve, para garantirmos um futuro próspero.

O Futuro do Planeta Terra
Fiz questão de ir à noite de abertura do evento, para ouvir o Secretário Geral da ONU, António Guterres, que tanto orgulho traz aos portugueses pela sua ética impecável e pelo papel tão importante que desempenha. Iniciou o seu discurso dizendo que “as mudanças climáticas são a ameaça mais determinante dos nossos tempos”, dizendo que são necessárias novas soluções para este problema tão grave e presente.
Noutra discussão, os oradores partilharam a previsão de que em 2050 haverá mais plástico do que seres vivos no oceano, se continuarmos a este ritmo de poluição. Ao contrário dos materiais biodegradáveis, o plástico parte-se em pedaços cada vez mais pequenos, mas demora centenas de anos a degradar-se por completo. Isto faz com que o plástico seja ingerido pelos seres marinhos, entrando na cadeia alimentar, até chegar aos nossos pratos, contaminando tudo pelo caminho.
Podia fazer uma tese de doutoramento acerca de todos os problemas ambientais que enfrentamos hoje, mas não foi isso que a Web Summit me ensinou. Aquilo que aprendi é que faz falta trazer esperança a este tema, e desenvolver inovações que transformam problemas, como o lixo e o carbono, em recursos e soluções! Na verdade, já existem vários projetos ligados a esta nova mentalidade, como a ideia de pagar aos pescadores pelo lixo que recolherem do oceano, transformar carbono em materiais de construção, o desenvolvimento de plásticos de origem vegetal, entre muitos outros.
Alguns de nós irão dedicar a sua vida a levar para a frente este tipo de soluções, mas há várias formas de todos os outros contribuírem para um melhor futuro, no seu dia a dia. Algo essencial que foi várias vezes referido nas conversas da Web Summit é o que vem antes de reciclar o plástico: rejeitar e reduzir!
Todos os dias usamos utensílios de plástico e os deitamos fora logo a seguir, como as palhinhas, os copos e as colheres de plástico, as embalagens dos alimentos, os sacos das compras, e por aí fora. Se juntássemos todo este plástico que deitamos fora (e muitas vezes para o lixo comum, em vez do reciclável) ao fim do mês, ficaríamos de certeza assustados com a quantidade de lixo que fazemos, sem sequer dar conta! Este é o primeiro conselho: rejeitar o plástico que nos oferecem e de que não precisamos, e reduzir ao máximo a compra de produtos embalados em plástico.
De seguida, podemos também investigar um pouco como são feitos os objetos que usamos, como a roupa, a mobília, os utensílios, e até a comida. Qual será o nível de poluição causada pela produção destes produtos? Será que a empresa fabricante tem preocupações ambientais? Há já várias marcas que têm este tipo de consciência, como a Patagónia, a H&M, a Unilever, a Siemens e a Jonhson & Jonhson. Assim, o segundo conselho é: procurar marcas sustentáveis que vendam aquilo que queremos e evitar marcas poluentes.
O último conselho é manter a esperança que juntos conseguimos conservar a beleza e saúde atuais do planeta Terra, ao pensar em todas as formas positivas de prevenir a poluição, e que a responsabilidade pertence a cada um de nós!

Mais à frente no seu discurso, António Guterres também referiu a educação: nas suas palavras, “a forma como pensamos no nosso sistema educacional tem de mudar completamente”. E eu não podia concordar mais com a sua afirmação. Na sua grande maioria, as nossas escolas estão pensadas ainda para a Era Industrial, onde o mais importante era seguir as normas e ter um pensamento “formatado”. Salvo a exceção de alguns professores extraordinários que tive, o único objetivo da maioria era “acabar o programa”, pois esta era a sua obrigação, imposta pelo Ministério e pela nossa sociedade. A criatividade, o pensamento crítico, a curiosidade e a inteligência emocional são completamente ignoradas, criando alunos cada vez mais desmotivados, apáticos e sem objetivos.
É, por isso, essencial criar novos modelos de ensino, onde os alunos são “ensinados a aprender” e não a decorar factos que virão a ficar obsoletos muito cedo, tal como disse na sua conversa a Diretora da International Bureau of Education da UNESCO, Mmantsetsa Marope. De acordo com ela, por um lado, a educação deve servir para nos tornarmos em “Life Learners” – pessoas que aprendem constantemente ao longo da sua vida. Por outro lado, podemos ser especialistas numa certa área, mas devemos também ser “generalistas”, isto é, conhecedores de muitas outras áreas. De forma igualmente importante, devemos ser educados a tornar-nos pessoas resilientes e com uma enorme capacidade de adaptação, porque as mudanças nos nossos contextos e nas nossas funções serão cada vez mais rápidas.
No entanto, não devemos apenas adaptar-nos aos novos contextos, mas também ser capazes de os transformar para melhor. Várias outras competências, como a auto-regulação e disciplina, integrar as tecnologias de forma eficiente, interagir em equipas multidisciplinares e conjugar uma visão global com uma visão local, foram também referidas como essenciais para ser bem-sucedido num futuro próximo.
Assim, há, sem dúvida alguma, muito a fazer para melhorar a Educação em Portugal e no mundo. Na minha perspetiva, é também responsabilidade de todos nós contribuir para esta melhoria. Agora que sabemos aquilo que queremos alcançar, é altura de começar a desenhar e construir novos modelos e métodos, adaptados àquilo que nos espera!

Concluindo, a cada ano que cá passa, a Web Summit traz ao Parque das Nações uma “janela para o futuro” e uma oportunidade de percebermos o que aí vem e como nos podemos preparar para aproveitarmos tudo o que de bom o futuro tem para nos dar!