Um esforço colectivo

O Parque das Nações tem uma taxa de reciclagem mais baixa que o resto da cidade de Lisboa. A Câmara Municipal de Lisboa está a estudar, ao pormenor, o nosso sistema de recolha de RSU e prepara-se para fazer algumas alterações. Para já, pedem que a população deixe de depositar o vidro nas condutas dos edifícios. Fica a conversa com o Engº Ângelo Mesquita e a sua equipa.

Como está a correr o trabalho da Câmara na questão da recolha de RSU?
Já há alguns anos que temos vindo a acompanhar, com a PE-GU, a gestão do PN. Quando, no dia 1 de Dezembro, assumimos a gestão tivemos consciência de que temos aqui uma população com cerca de 25 mil habitantes com um sistema de recolha de resíduos sólidos urbanos, RSU, único no país e um dos maiores da Europa. É um sistema com um potencial tremendo e que se insere bem na estratégia que temos para o resto da cidade de Lisboa. Desde 2003 que temos, no resto da cidade, a recolha selectiva, porta a porta. Antes utilizávamos os ecopontos, um sistema que é actualmente pouco eficaz porque obriga as pessoas a deslocarem-se dezenas de metros até ele, o que não facilita a vida a quem quer participar na reciclagem. Por outro lado, proporciona em termos de paisagem urbana um problema. Portanto, em 2003, decidimos partir para a recolha selectiva porta a porta. Hoje temos cerca de 70% da cidade a ser abrangida por este processo. Com isto passámos de uma despesa de 6,5 milhões € para uma despesa abaixo dos 3 milhões €. Contabilizando o que pagamos pelos resíduos que vão ser tratados e as receitas que temos da venda dos sub-produtos (cerca de 3,4 milhões €, em 2012).

E no PN, como corre?
Aqui verificamos que a taxa de reciclagem é muito baixa. No resto do concelho de Lisboa temos uma participação na ordem dos 25% e aqui não.

E isso deve-se a quê?
Este processo precisa de acções de informação, de sensibilização para a necessidade das pessoas participarem neste esforço colectivo. Neste momento estamos a fazer um levantamento do sistema existente. Nós sabemos e conhecemos este sistema, mas precisamos de conhecer com maior pormenor. Como é que ele funciona em cada um dos edifícios, por exemplo. É esse trabalho, esse levantamento, edifício a edifício, que estamos a fazer e que nos permitirá obter informação que nos conduza ao desenvolvimento do projecto que será posto em prática pela ENVAC. E ao desenvolvimento de acções de informação e sensibilização, dirigidas à comunidade, feitas por nós.
A participação da população parece simples e óbvia porque todos os edifícios têm uma boca de carga para os materiais recicláveis, ou seja, quem quiser participar só tem que descer ao piso térreo para as depositar, nos dias em que são recolhidos.

Vão fazer alguma alteração relativamente ao sistema actual?
Sim. O vidro, por exemplo, não vai poder ser recolhido através das condutas. O vidro deixado cair nas condutas estilhaça-se e, como se trata de um material muito abrasivo, provoca avarias na conduta. Não há necessidade de estarmos a causar problemas ao sistema de recolha, trazendo incómodos para a população, se podemos optar por outras soluções, nomeadamente, da recolha porta a porta ou através de vidrões colocados em lugares estratégicos do território.

Essa será a única alteração?
Não. Poderá haver acertos nos dias de remoção. Retirando a fracção vidro da conduta, poderemos optimizar esses dias, permitindo à população colocar outras fracções.
Temos um sistema inovador, uma população com níveis de formação elevados, portanto, temos que apostar no contacto e sensibilização que essa percentagem subirá facilmente. Aliás, com este sistema poderemos ir muito além da taxa de reciclagem do resto da cidade. Desde que as pessoas estejam informadas e sensibilizadas.

Há pessoas que pensam que podem, por exemplo, deitar plásticos ou  vidro ou papel em qualquer dia da semana, que a separação é feita posteriormente.
Não, isso não é verdade. Em alguns locais do país a triagem é, de facto, feita depois, mas aqui não. A Valor Sul não funciona assim. Por isso é que esse trabalho é muito importante. Os porteiros dos edifícios são uns parceiros muito importantes, desde há muitos anos. É fundamental que, nos edifícios que têm porteiro, seja feito um investimento nessa informação. É preciso que haja um grande investimento na informação, de uma forma em geral.

Há alguma mensagem que queiram passar? Por exemplo, querem que as pessoas parem já de depositar o vidro nas condutas?
Sim. Não vale a pena lançarem o vidro, neste momento, na conduta. Existem alguns vidrões instalados no território. Portanto, a primeira alteração de comportamento para a qual pedimos a atenção das pessoas é: não vale a pena introduzir o vidro nas condutas dos edifícios.

Relativamente ao resto?
Relativamente ao resto é para manterem os comportamentos que têm mantido e vamos, certamente, na próxima edição divulgar a data de início das alterações que vamos introduzir no sistema e daquilo que precisamos que as pessoas façam. Vamos aproveitar o jornal para ir transmitindo à população essa evolução. É importante dar a conhecer às pessoas que o esforço que fazem vale a pena.

Há pessoas que não acreditam na eficácia deste sistema… o que se pode fazer para desmistificar isso?
Aquilo que nós não separamos é um custo para a comunidade e aquilo que separamos é um benefício para a comunidade.  Se não fizéssemos reciclagem em Lisboa, não tínhamos tido o ano passado uma receita dos subprodutos de 3,4 milhões €.

Por exemplo, o Parque das Nações podia ser pioneiro num sistema do tipo: em função daquilo que reciclam, as pessoas podem beneficiar de um desconto nas taxas que têm que pagar. Mas este sistema é muito complexo e tem, obviamente, que ser muito bem estudado. Há uma série de coisas que têm que ser muito bem vistas, mas esta área tem condições excelentes para a aplicação dum sistema deste tipo.
Claro que é de certa forma utópico, no presente momento, e terá que ser muito bem estudado. Mas o Parque das Nações é, provavelmente, o território mais bem apetrechado para receber este tipo de inovação, em primeiro lugar. Sendo que, nesta perspectiva, não será, certamente, nos próximos 5 anos que isto vai acontecer. Para já temos que potenciar a reciclagem e escutar a capacidade de participação deste território e, então, nessa fase, as pessoas serem premiadas por participarem neste esforço colectivo.