Sul

A bicicleta veio para “ganhar” tempo, dinheiro, melhor ambiente, menos carros e boa disposição. Tem vindo a ter cada vez mais adeptos. No meu caso, vejam como tudo começou.
O Gonçalo Peres, da Cineteca, residente na zona sul, propôs-me que fosse para o meu local de trabalho, de bicicleta. Pensei que fosse impossível pois é em Marvila, na ESAI- Escola superior de atividades imobiliárias, e tem umas subidas capazes de dissuadir, rapidamente, um iniciado. Voltou e lembrar-me, até que, no dia 14 de outubro, resolvemos fazer o primeiro trajeto: Cineteca – ESAI. Demorámos 35 minutos e percorremos 3,800km.
Atualmente já faço este percurso algumas vezes por semana. Porque, tal como referi na newsletter da ESAI, é uma experiência muito agradável e tem muitas vantagens: poupo tempo pois, simultaneamente, faço o exercício físico diário e desloco-me para o meu local de trabalho, não poluo o ambiente e é menos um carro.
Num dos meus percursos para a ESAI cruzei-me com uma condutora na sua bicicleta que parecia dominar o percurso. Como entre os amigos das bicicletas há uma certa cumplicidade, trocámos um sorriso como que a dizer: mais uma para o “grupo”. Ficámos um pouco a falar nos semáforos, enquanto aguardávamos a passagem para o sinal verde. Com surpresa comentou-me que também era professora, mas no ISEL, e que fazia sempre este percurso. Ou seja, utilizava a bicicleta como meio de transporte. – E quando estiver frio? – perguntei. – “Venho sempre. Com frio, com alguma chuva, (não muita) e à noite. Tenho um sistema de luzes intermitente que é bem visível. Quando tenho aulas até às 23h, o meu marido vai-me buscar – de bicicleta!”


   
Atualmente, até já consegui arranjar um pretexto para os meus filhos irem com mais entusiasmo, à natação no domingo – vamos de bicicleta até à piscina do Oriente (zona centro do Parque das Nações).
Vou partilhar alguns receios/barreiras que coloquei, antes de iniciar. Estas foram as soluções que encontrei:
• O caminho para a ESAI tinha uma grande subida – descobri caminhos alternativos e até mais rápidos. As bicicletas andam por locais que os carros não conseguem – atualmente, demoro 25 minutos ( o que implica que já fiz 25 minutos de ginástica).
• Como levar o portátil? – comprei um cesto para a parte de trás e protejo com alguns elásticos. Há também sacos específicos, mas os que vi eram mais dispendiosos e não me cabia o computador.
• O perigo de ir pela estrada – quando é necessário vou pelo passeio, (mas o local para circular é na estrada ou ciclovia). Neste sentido, ainda temos algum caminho a percorrer, pois Lisboa ainda não está apta a integrar, totalmente, este meio de transporte. Mas vamos nesse sentido. E a ciclovia Parque das Nações – Terreiro do Paço, foi um grande avanço.
• Conduzir à noite – para ultrapassar esse receio utilizo um colete refletor (dos carros) e umas luzes. Como o sistema de luzes da bicicleta não era eficaz, adaptei uma lanterna.
Apesar do aumento dos utilizadores ainda não se conhecem, claramente, os direitos e deveres  dos condutores de bicicletas. Para isso fui consultar  o novo código da estrada, aprovado no passado dia   24 de Julho, que refere o seguinte:
• As bicicletas já têm prioridade quando se apresentam pela direita num cruzamento não sinalizado;
• O condutor de um veículo motorizado é obrigado a assegurar uma distância mínima lateral de 1,5 m do ciclista e abrandar a velocidade durante a sua ultrapassagem;
• Não existe obrigatoriedade dos velocípedes circularem nas ciclovias – podem circular com o restante trânsito quando não considerem a alternativa em ciclovia vantajosa em termos de segurança, conforto ou competitividade;
• É permitido dois velocípedes circularem lado a lado numa via;
• As bicicletas devem deslocar-se na estrada ou ciclovias. É permitida (não obrigatória) a circulação no passeio, por crianças até aos 10 anos.
Segundo Gonçalo Peres, “As cidades devem estar desenhadas para todos, utilizadores de bicicletas, transportes públicos, carros e peões. O investimento em redes cicláveis bem desenhadas é fundamental, (sem estar a tirar lugar aos transeuntes). Tem um retorno muito importante em termos de saúde, ambiente, economia e segurança: melhora a condição física e psicológica dos habitantes, evita as pesadas multas que a cidade tem que pagar por ultrapassar os limites de poluição a que se comprometeu, reduz as importações de combustível e aumenta a segurança, não só na estrada (menos acidentes), como no restante espaço público (mais pessoas na rua, ruas mais seguras).”

Para terminar, resta-me motivar todos os que têm possibilidade, para adotarem a bicicleta como meio de transporte. Para além de tudo o que foi dito, contribui para aumentar o nosso bem-estar e, consequentemente, a nossa felicidade. Se necessitarem de ajuda recomendo o Bike Buddy – “grupo que ajuda quem quer começar a andar de bicicleta na cidade e não sabe como” – poderão contactar através do site: http://bikebuddy.mubi.pt/

PS: O próximo desafio será a forma como vou ultrapassar o frio do inverno. Mas também sabemos que nos países frios a bicicleta é sempre muito utilizada. Vamos ver como será…