Polícias de nós próprios

autores_carmomirandamachado_round_100x100

Não é a paisagem, por mais apelativa que seja, que faz um bairro. Pessoas… São as pessoas que o fazem. Com as sua energias e sinergias. Com as suas vontades. E a identidade do Parque das Nações existe e compete a cada um de nós dar-lhe mais força e enriquecê-la em todas as vertentes possíveis, de preferência a nível cultural e humano.

Temos tudo de que é feito um bairro feliz: pessoas, animais e natureza à volta. As ruas são largas, já há vizinhança feita, temos cafés e esplanadas para todos os gostos, os polícias são jovens e simpáticos e andam de calções e de bicicleta. Não temos comércio tradicional, dirão os mais céticos. Nem quiosque de jornais. Nem a praça para escolher os legumes a rigor. E para ir ao sapateiro é uma grande trabalheira. Talvez… talvez… Mas, recordando Manuel da Fonseca, temos o LARGO que, com as famílias inteiras, carrinhos de bebés, patins, bicicletas, cães e gatos é quase o centro do mundo aos sábados de manhã. Que queremos nós mais?

Já o disse várias vezes e repito. Gosto do meu bairro. Habito-o desde 98. Não o troco por nenhum outro de Lisboa. Ou arredores. Mas entristece-me cada vez mais verificar a crescente falta de civismo ao meu redor. Vamos por partes: os cocós dos cães sucedem-se no meu caminho. Tropeço neles sempre que saio de casa. E agora não só nas zonas verdes mas ali, descaradamente, no meio dos passeios. As beatas no chão tornaram-se uma realidade e os quilos de publicidade que enfiam pelas caixas de correio (mesmo naquelas onde se lê PUBLICIDADE AQUI NÃO, OBRIGADO) acabam inevitavelmente por cair no chão dando ao lugar um certo ar de decadência que me desagrada. Observo pessoas a colocar cartões, caixas e plásticos nos pequenos caixotes de lixo da rua, em vez de os colocarem nos locais indicados para o efeito e, last but not the least, diariamente, apanho papelinhos de rebuçados, gelados, sugus e chocolates que as crianças deitam para o chão perante o ar descuidado de alguns pais. Por outro lado, quando é que os papás percebem que não podem parar os seus carros em plena via às oito da matina, impedindo os outros de circular, só para que os meninos possam ser despejados mesmo em frente à porta da escola?

Sugiro pois que nos armemos de bom senso, empatia e rigor, tudo em doses iguais, para continuarmos a fazer do nosso bairro um lugar perfeito para viver.

Não sei se poderemos chamar a atenção do “OUTRO” para situações que agridam o bairro… Não nos devemos tornar polícias de ninguém… Mas é urgente que nos tornemos polícias de nós próprios para não ficarmos indiferentes a gestos que estragam a qualidade de vida do  lugar que escolhemos para viver.

Carmo Miranda Machado
(Escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico)