O Parque das Nações Animal

“O Parque das Nações possui uma área de lazer reconhecida em toda a cidade, com extensão e condições ideais para animais e donos poderem passear.” Quem o diz é Rui Morgado, médico veterinário no Parque das Nações e morador nesta zona desde 1999, ou seja, praticamente desde os primórdios do bairro.
Entre as grandes mais-valias do Parque das Nações encontramos a sua larga zona pedonal e os relvados à beira rio, espaços que concretizam excelentes condições para que os animais, nomeadamente os cães, se divirtam com menos constrangimentos. Assim, não é de espantar que o número de animais domésticos no nosso bairro seja cada vez maior e que se tenha tornado praticamente impossível olhar pela janela sem vislumbrar um simpático quadrúpede. Para o presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações, José Moreno, o aumento da população animal deve-se, em muito, à chegada de novos residentes: “Creio que o número de animais no Parque das Nações tem vindo a subir, até porque também tem aumentado o número de moradores. Estão para abrir duas novas clínicas veterinárias na zona norte, o que demonstra que, pelo menos, há mercado.”
De acordo com José Moreno, a própria qualidade de vida que esta zona proporciona aos animais domésticos pode ter alguma influência na atracção de novos moradores, opinião partilhada em absoluto por Rui Morgado: “Todas as áreas verdes que temos e todas as condições que o Parque das Nações oferece aos animais podem claramente funcionar como um factor de escolha deste bairro para quem tem ou pensa vir a ter animais.”
Este não foi o caso de António Cardoso, residente no Parque desde Julho de 1999 e dono de Dandee, um Golden Retriever de 11 anos. “O Parque das Nações tem muito boas condições e é um espaço privilegiado para passear com os animais, mas não foi a pensar nisso que me mudei para aqui”, revelou. De qualquer modo, terá sido muito à custa destas valências que António Cardoso acabou por tomar a decisão de ter um animal, visto que adoptou o Dandee apenas dois meses depois de se mudar para a zona norte do bairro.   
Rui Morgado explica, no entanto, que o Parque das Nações até nem é uma zona com muitos animais por habitante: “Sendo uma área onde as pessoas têm mais posses, acontece que muitos moradores vão passar o fim-de-semana fora, o que se tornaria um problema caso tivessem animais de grande porte”. De acordo com o médico veterinário, é precisamente devido a esse poder económico que há quem abandone animais nesta zona, na esperança de que alguém tome conta deles e lhes possibilite uma boa vida.

As Responsabilidades dos Donos

Mas afinal como podemos classificar os donos de animais do Parque das Nações? De acordo com Rui Morgado é impossível identificar um género específico de pessoas que aderem a animais domésticos: “Há quem tenha um cão por ‘exigência’ dos filhos, que são geralmente os casais mais novos, há as pessoas de idade que já não vivem com os filhos, e há muitas outras pessoas…”
António Cardoso admite que a filha, com quem morava, teve na altura alguma influência na decisão de adoptar um cão, mas que a opção de ter um animal se deveu sobretudo ao facto de gostar muito de animais e da óptima companhia que proporcionam. “É certo que um cão representa uma despesa bastante elevada, mas isso é algo que nem sequer se pensa ou se questiona”, afirma este morador para quem os animais também contribuem para estimular um maior convívio entre os vizinhos que passeiam os seus cães: “Podem-se travar conhecimentos por intermédio dos animais. Posso dizer que já conheci pessoas e fiz amigos durante aquilo a que eu chamo o passeio dos cães.”
Este acto de passear o cão é, aliás, fundamental para o desenvolvimento dos animais, como refere Rui Morgado: “Um dono deve tentar ir com o cão à rua o máximo de vezes possível, para que ele possa passear e divertir-se. Nem que tenha que delegar essa tarefa à empregada doméstica …”
Para o veterinário, muitos animais, mas principalmente os cães, podem ficar em stresse se não estiverem com os seus donos durante muito tempo, pelo que é preciso ter o cuidado de não os deixar sozinhos durante longos períodos. Esta é uma situação que Dandee, o cão de António Cardoso, já sentiu na pele quando o dono esteve de férias no Algarve. “Já o deixei algumas vezes com pessoas amigas e de confiança, mas ele ressentiu-se sempre. Por isso, tive que encontrar uma solução que foi a de alugar um apartamento onde aceitassem o cão, isto só para o poder levar.”
É muito por esta grande relação de proximidade que estabelece com o seu cão, que António Cardoso não faz tenções de vir a ter outro animal: “É muito complicado. O Dandee já tem 11 anos, está numa fase muito avançada da vida de um cão, e já se começa a sofrer com isso. Faço votos para que dure mais uns aninhos com saúde, mas depois não pretendo ter mais cães.”

Higiene e Civismo

A sujidade e os dejectos representam a faceta mais negativa da convivência com animais domésticos. Em muitas zonas da cidade, os passeios estão autenticamente minados por dejectos de cães. E, de facto, quem é que nunca os pisou uma vez que fosse? Claro que é injusto associar este problema aos animais. Os donos que não se responsabilizam por limpar a rua são, esses sim, os verdadeiros culpados. Posto isto, importa então perceber como se comportam os moradores do Parque das Nações relativamente a este aspecto.
“Claro que há sempre quem olhe para o lado mas, de uma maneira geral, noto que existe uma certa cultura de higiene e limpeza relativamente aos dejectos dos cães”, afirma Rui Morgado. Opinião bem diferente tem José Moreno, da Associação de Moradores e Comerciantes: “Existe uma falta de cuidado, para não dizer de civismo, por parte de muitas das pessoas que levam os seus animais à rua. Em parte por sugestão nossa, a Parque Expo investiu bastante na colocação de pequenos contentores com sacos de plástico para apanhar os dejectos, mas chegamos à conclusão de que não são muitas as pessoas que fazem uso deste sistema. Mesmo quando são as crianças a levar os animais à rua, é importante que os pais as ensinem a apanhar os dejectos”, diz José Moreno que rejeita atirar as culpas para os visitantes ‘externos’ do Parque das Nações: “Até podem existir casos em que alguém que venha passear ao Parque não tenha esses cuidados com os animais, mas não podemos culpar sempre quem vem de fora: a falta de civismo também vem da parte dos moradores. Se não existissem meios para apanhar os dejectos ainda podia haver alguma desculpa, mas não é o caso.”  
A este respeito, Rui Morgado lembra que, muitas vezes, os suportes com sacos de plástico criados especificamente para a limpeza dos dejectos dos animais, não são devidamente reabastecidos. José Moreno afiança que vai transmitir este problema numa próxima reunião com a Parque Expo, mas continua a apelar aos residentes para que sejam mais cuidadosos com os dejectos dos seus animais: “Devia haver mais civismo, mais cuidado e uma maior preocupação da parte dos moradores. Além do mau aspecto que se dá de um bairro que até prima pela limpeza, não nos podemos esquecer de que muitas crianças andam na rua a brincar. Já vi muitos jovens a jogar à bola nos relvados e a ficarem todos sujos. Até costumávamos organizar alguns torneios desportivos na relva, mas nunca mais os fizemos, em parte devido a estes percalços.”
Também António Cardoso é da opinião que os donos de animais do Parque das Nações podiam ter mais cuidado com os dejectos dos cães. E embora reconheça que os contentores para dejectos nem sempre estão abastecidos de sacos, está convencido de que tal factor não pode ser usado como desculpa: “Deve-se sempre trazer de casa um saquinho para prevenir essa situação. Acho profundamente errado que haja quem não o faça e que tenhamos que
ver muita porcaria nas pracetas e na relva, onde as crianças costumam brincar. Acho que às vezes as pessoas não sabem aproveitar o espaço que têm.”
Importa também lembrar que não são só os dejectos sólidos a contribuir para a sujidade das ruas. Também as marcas de urina nas paredes dos prédios se tornaram uma infeliz constante em todo o bairro.

As Preocupações de um Veterinário

Médico do Centro Veterinário Vila Expo (na zona norte), Rui Morgado é um observador atento das condições que o Parque das Nações proporciona aos animais. Na sua clínica trata sobretudo de questões de profilaxia médica (cuidados a ter com os animais, vacinações, conselhos sobre a alimentação) e do tratamento de doenças (distúrbios alimentares ou patologias de pele são os problemas mais frequentes). “Não costumamos ter muitas urgências porque existem poucos acidentes na zona. As próprias características da urbanização, com muitos espaços sem carros, fazem com que não existam tantos casos de atropelamento como noutros locais”, afirma Rui Morgado.
Do ponto de vista médico, o último problema a merecer atenções redobradas deste veterinário prende-se com uma doença de cães denominada ‘tosse de canil’, uma espécie de gripe com múltiplos vírus associados. “Houve durante dois anos um surto desta doença aqui no Parque das Nações que fomos capazes de debelar. Mas existe uma vacina que recomendamos que se faça e que aliás é obrigatória em quase todos os hotéis para cães. Trata-se de uma doença que pode ser altamente contagiosa e a prevenção é sempre muito importante, até devido ao grande convívio que há entre os animais da zona”, aconselha Rui Morgado.
Mas não só de questões médicas se fazem as suas preocupações. Rui Morgado identificou igualmente quatro problemas, relacionados com o bem-estar da comunidade animal do Parque das Nações, que gostaria de ver resolvidos o mais rapidamente possível. Um já foi referido e diz respeito às deficiências no abastecimento de sacos de plástico nos pequenos contentores indicados para colocar os dejectos.
Outra queixa que costuma ouvir relaciona-se com a falta de bebedouros para animais nas zonas pedonais. Estes equipamentos poderiam ser providenciados junto aos bebedouros normais que já existem, permitindo assim que o animal pudesse, tal como o seu dono, matar a sede.
Os tratamentos químicos feitos à relva também fazem parte das preocupações de Rui Morgado: “Há tratamentos muito agressivos que podem conduzir à morte do animal. Devia haver o cuidado de pôr umas placas na relva que avisassem que aquela é uma área tratada, para que os donos evitem que os seus cães passeiem por essa zona. Ultimamente não têm acontecido muitos problemas deste tipo, mas já tive de salvar alguns animais”, recorda.
O último problema que apontou tem a ver com os animais perigosos e com a falta de cuidados da parte dos seus donos: “Por vezes, passam por esta zona do Parque das Nações pessoas com cães perigosos e que não têm com eles os devidos cuidados. Já existiram casos de pessoas agredidas violentamente por estes animais e que tiveram mesmo de ser assistidas no hospital. É sempre de recomendar que, quando são potencialmente perigosos, os cães devem andar, no mínimo, com uma trela, como aliás está previsto na lei.”  

Os Animais do Parque das Nações

Já falámos dos tipos de donos que existem no Parque das Nações. E quanto aos animais? Quais são as espécies e raças favoritas? Para Rui Morgado é tudo uma questão de modas: “Houve alturas em que o Golden Retriever e o Retriever do Labrador estavam muito na moda. Hoje, também já se começa a ver o Bulldog Inglês, o Bulldog Francês ou o Westie.”
António Cardoso, dono do Golden Retriever Dandee, confessa que passou a admirar muito esta raça desde que viu um destes cães a conduzir um invisual à única mesa vazia numa esplanada em França. Este episódio permitiu-lhe logo entender a inteligência, lealdade e companhia que estes cães proporcionam, e teve influência na hora de escolher a raça do cão a adoptar.
Mas se os cães são a face mais visível dos animais domésticos do Parque das Nações, muitas outras espécies, geralmente mais caseiras, habitam neste bairro. É o caso dos gatos: “Ao contrário de outras zonas da cidade, a população felina é bastante significativa no Parque das Nações”, revela o veterinário Rui Morgado. “A nível de raças, também se vão seguindo as modas, embora denote nos gatos uma menor preocupação das pessoas em adquirir uma boa raça”, conclui.
Pelo contrário, no que diz respeito a animais exóticos, a sua percentagem é inferior quando comparada com a de outros bairros. Rui Morgado acredita que tal se deve a razões culturais: “Aqui preserva-se um determinado tipo de cultura e há certos animais que os pais não admitem dar aos filhos. Mesmo assim, existem por aqui cobras, lagartos e aranhas, isto sem contar, por exemplo, com coelhos e hamsters, que já não consideramos animais exóticos.”
Sejam cães, gatos, coelhos ou lagartos, o Parque das Nações recebe de braços abertos todos os animais que os seus moradores queiram adoptar. Isto desde que se garantam os cuidados necessários para preservar uma convivência pacífica e limpa dos animais com a restante comunidade. O Parque das Nações dispõe de espaços privilegiados para assegurar o bem-estar dos animais e, por isso mesmo, como refere o presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações, José Moreno, “todos os animais são bem-vindos, ainda para mais, para um lugar com estas condições.”

Bernardo Mata